«Há alguma coisa mais americana que uma missão da NASA a dirigir-se sem medo até onde nunca ninguém foi antes?». Charlie Bolden, administrador da NASA, não desperdiçou a coincidência com o feriado da independência dos EUA quando chegou a hora de anunciar ao mundo que a sonda Juno tinha logrado entrar na órbita de Júpiter. Desta vez, a missão «até onde nunca ninguém foi antes» teve o momento alto às 4:18 da madrugada de terça-feira de Lisboa – mas ainda no horário nobre da TV de ontem, no fuso horário da Costa Leste americana.
A manobra, considerada de elevada complexidade por ter de enfrentar a forte radiação e uma faixa de rochas que pairam no Espaço, não durou mais de 35 minutos. Durante esse período, a sonda teve de proceder a um abrandamento e a uma guinada final. Não demorou muito até que o Laboratório de Propulsão a Jato de Pasadena, Califórnia, confirmasse que a entrada em órbita foi bem sucedida.
Para chegar a Júpiter, a Juno teve de fazer uma viagem de 2,8 mil milhões de quilómetros de distância, que demorou mais de cinco anos. Além de fixar uma nova fronteira na exploração espacial, a Juno fixa mais um recorde tecnológico: é, neste momento, o veículo movido a energia solar mais distante da Terra. Mas não se julgue que a sonda da NASA é um portento energético: os painéis solares deste veículo espacial não conseguem ir além dos 500 W. Esta potência é aplicada no funcionamento de 29 sensores e nove instrumentos científicos, explica o The Guardian.
São estes instrumentos que poderão ser usados para responder a algumas das principais questões da comunidade científica que permanece em Terra: quanta água existe em Marte? E qual a composição do núcleo deste planeta gasoso (composto por hélio e hidrogénio) que é 11 vezes maior que a Terra?
O comunicado da NASA ajuda a perceber o alcance desta missão: «Juno vai investigar a existência de um núcleo sólido planetário, mapear o campo magnético intenso de Júpiter, medir a quantidade de água e amónia na atmosfera profunda, e observar as auroras do planeta. Esta missão também nos permitirá dar um passo de gigante no nosso conhecimento sobre a formação destes planetas gigantes e o papel que estes titãs desempenharam no alinhamento o resto do sistema solar».
Todo este conhecimento terá de ser obtido numa lógica de contrarrelógio: a Juno vai “apenas” executar 37 órbitas. Cada órbita deverá durar 14 dias; durante esse período, a distância entre a sonda e Júpiter deverá variar entre três milhões de quilómetros e “apenas” 4000 quilómetros. Apesar da grande distância que a órbita permite alcançar e das proteções em titânio que foram aplicadas, os instrumentos a bordo não deverão resistir à radiação – pelo que se prevê que deixem de operar ainda antes do final da missão.
A telemetria e as comunicações de rádio deverão assegurar um papel determinante nesta missão – mas não vale a pena começar na Net imagens de Júpiter que tenham sido captadas pela Juno. Só em agosto, as primeiras imagens terão percorrido o caminho inverso dos 2,8 mil milhões de quilómetros exigidos para a Juno chegar às imediações de Júpiter.
Nesta página pode ver uma animação que ajuda a perceber o percurso da Juno e ainda um vídeo produzido pela NASA que permite perceber as órbitas executadas pelas diferentes luas de Júpiter.