É um contentor, que não terá mais de um palmo de comprimento, e que está subdividido em cinco pequenas divisões descritas como “cassetes”. No interior haverá substrato, um sistema de rega, um filtro de carbono e um sistema de estimulação de luz. E mais importante, haverá plantas. Ou melhor, aquelas que poderão tornar-se as primeiras plantas a crescer em Marte, caso esta “mini-estufa espacial” preparada por investigadores das Universidades do Minho e do Porto seja escolhida entre os dez projetos universitários que disputam um bilhete de viagem para Marte na missão que o programa Mars One agendou para 2018.
O projeto Seed tem uma única protagonista – e não é de carne e osso. Nos meios científicos é conhecida por Arabidopsis thaliana, e no circuito popular nacional, é apelidada de Arabeta, Arabidopse-do-tale ou Erva-estrelada. Nas enciclopédias online é apresentada como uma planta herbácea que pertencerá à primeira família da mostarda ou da couve.
A equipa do projeto Seed, constituída maioritariamente por alunos das universidades do Minho e do Porto, pretende tornar a Arabeta a primeira planta marciana. E para isso seguiu os princípios definidos por John Kiss, biólogo da Universidade do Mississipi com trabalho feito nesta área, para preparar um contentor capaz de albergar e alimentar vegetais, que terá as dimensões necessárias para viajar para Marte em 2018, caso o programa Mars One seja bem-sucedido.
Os estudantes portugueses, que também contam com a ajuda de investigadores da Universidade de Madrid e da ESA, admitem que não será a primeira vez que o contentor similar irá para o Espaço, mas lembram que a ida a Marte comporta desafios diferentes de outros projetos levados a cabo, no passado, em ambiente espacial.
«Este equipamento já foi usado na Estação Espacial Internacional (ISS) e os resultados dessas experiências já foram publicados. Contudo, ao contrário do que sucede com a ISS – em que há um controlo da temperatura local – as temperaturas de Marte são baixas e instáveis. Acreditamos que a energia disponível deverá ser suficiente para manter a temperatura adequada para o crescimento da planta. Se esta assunção estiver correta, iremos usar rebentos de Arabidopsis thaliana, uma das plantas mais usadas em experiências laboratoriais. Em alternativa, podemos vir a optar por plantas que resistem a temperaturas extremamente baixas, como os líquenes e os musgos. Todas as sementes farão a viagem congeladas e serão descongeladas antes de dar início à experiência», refere a página do projeto Seed na secção de comunidade do programa Mars One.
Para garantirem um lugar na primeira missão (não tripulada) a Marte e poderem fazer transmissões de vídeo em direto do crescimento de uma planta, os estudantes portugueses terão de superar os outros nove projetos finalistas do concurso que o Mars One lançou junto da comunidade académica com o objetivo de escolher a primeira carga experimental que deverá ser colocada em Marte.
O projeto Seed não terá missão facilitada: entre os finalistas, encontram-se projetos que preveem a produção de oxigénio a partir da água ou do carbono; uma estufa; um sistema de medição de radiações; abrigos com materiais existentes em Marte; um sistema de produção de água a partir da urina; uma consola de análise do clima marciano; e um sistema de fotossíntese artificial. Além do projeto liderado por investigadores portugueses, encontram-se na lista de 10 finalistas projetos propostos por universidades dos EUA, Índia, Alemanha, e Reino Unido.
Os 10 finalistas foram selecionados entre 35 candidaturas. O vencedor será escolhido através de uma votação dos internautas que tem início nos primeiros dias de dezembro e termina no último dia do mês.
O anúncio do projeto selecionado será feito a 5 de janeiro, refere um comunicado do programa Mars One, frisando que a carga experimental que for selecionada terá de garantir o respeito pelos requisitos definidos pela organização do concurso e também pelas exigências técnicas que vierem a ser apresentadas pela Lockeed Martin, que vai fabricar a sonda que será enviada para Marte em 2018.
O Mars One é um projeto liderado pelo empresário holandês, que pretende financiar a instalação da primeira colónia humana em Marte através de um reality show transmitido na TV. A ida do primeiro grupo de colonos para Marte, que é descrita por alguns especialistas como uma viagem de não retorno, está prevista para depois de 2023. Três portugueses figuram na lista de 705 apurados no processo de seleção dos primeiros colonos de Marte.