
Os trabalhos só deverão arrancar em 2017 – mas em julho será tomada a decisão final no que toca à atribuição de missões e tarefas ao consórcio responsável pelos cadernos de encargos e design de edifícios, redes de telecomunicações e sistemas de controlo do SKA. Para já, há um único consórcio a concorrer ao desenho, fornecimento e prestação de serviços do sistema de gestão e controlo de infraestruturas e equipamentos daquele que vai ser o maior radiotelescópio do mundo. E é nesse consórcio que se encontram alguns nomes bem conhecidos dos portugueses: Martifer, Critical Software, Active Space Technologies, Instituto das Telecomunicações, Universidade de Évora, Instituto Politécnico de Beja e Centro de Estudos Geo-espaciais da Universidade do Porto.
Além das empresas e instituições portuguesas, o consórcio deverá contar com a participação de entidades estrangeiras (Índia, África do Sul, Austrália, Reino Unido e Portugal). Domingos Barbosa, investigador do Instituto das Telecomunicações (IT) e coordenador da participação nacional no consórcio, estima que as entidades portuguesas deverão investir o equivalente a um total de dois milhões de euros para entrar e garantir a adjudicação de contratos de fornecimento ou prestação de serviços.
Até à fase de arranque dos trabalhos no terreno, em 2017, a participação portuguesa poderá garantir nas fases de construção, através da adjudicação de tarefas, «um retorno duas a três vezes superior ao investimento efetuado», estima o investigador do IT. Mas estes valores podem ser maiores:«A tarefa de desenvolvimento de uma interface entre os vários subsistemas usados pelo SKA é muito importante e dá uma grande visibilidade, que pode originar oportunidades de negócio de dezenas de milhões de euros a montante nos próximos anos», acrescenta Domingos Barbosa.
A atribuição de trabalhos e tarefas ainda não está garantida, mas Domingos Barbosa recorda que apenas um consórcio se apresentou a concurso para o fornecimento de soluções de gestão e controlo do radiotelescópio. «São candidaturas muito trabalhosas em que todos os membros procuram participar e, ao mesmo tempo, evitar a duplicação de propostas», explica o investigador do IT de Aveiro.
Há mais projetos na calha
Além da participação no consórcio que vai construir os sistemas de gestão e controlo do radiotelescópio, a participação portuguesa poderá conhecer hoje, no Parlamento Europeu, novos desenvolvimentos: várias entidades que estão a trabalhar na instalação do maior radiotelescópio do mundo acabam de lançar o período de apresentação de candidaturas para consórcios que pretendam fornecer sistemas e equipamentos de energia para as várias estações do SKA. Active Space Technologies, Logica, Visabeira, Martifer, Critical, Efacec, Motofil e Coriant (ex-Nokia Siemens Networks) são as empresas portuguesas interessadas em garantir a participação no consórcio com apoio dos Polos de Competitividade TICE e Energy in.
Portugal vai acolher a estação de ensaios do SKA (em Moura), mas não é membro de pleno direito do conjunto de países que vão instalar o maior radiotelescópio do mundo. Domingos Barbosa admite que, em breve, a Fundação para a Ciência e Tecnologia (FCT) possa vir a tomar uma decisão quanto ao pagamento exigido aos membros deste projeto internacional. «A FCT decidiu investir 500 mil euros por ano durante uma década no Grande Telescópio Europeu (EELT). A relação custo-beneficio e a intensidade tecnológica serão ainda mais vantajosas com o SKA, o que me leva a acreditar que, a prazo, a FCT também vai investir no SKA, a fim de garantir uma participação em áreas onde Portugal e a Europa investem imenso e que são essenciais na cooperação com África».
O que é o SKA
O SKA prevê a instalação de várias centenas de milhares de antenas em cinco anéis concêntricos que podem chegar a 3000 quilómetros de distância do núcleo central, na África do Sul. Este radiotelescópio estende-se por vários países – mas há três que merecem maior destaque: a Austrália, por também acolher um número de antenas considerável; o Reino Unido que vai acolher o centro de processamento e controlo de dados; e Portugal, que apesar de ainda não ser membro do projeto, vai receber uma estação que permite ensaiar tecnologias e equipamentos que deverão ser usados posteriormente no radiotelescópio instalado no Hemisfério Sul.
Com as várias antenas, o SKA estará apto a captar frequências entre os 70 MHz e os 10 GHz – o que permitirá chegar a resoluções 50 vezes superiores à do radiotelescópio mais sofisticado da atualidade. Em 2016 deverão ter início os trabalhos de instalação; em 2019, as primeiras observações terão lugar em 2019; e em 2024, deverá estar em operacionalidade total.