Quando a missão Aeolus foi projetada, na década de 1990, não havia protocolos para os vestígios de satélites ou a segurança da sua reentrada no planeta. Assim, a ESA (Agência Espacial Europeia) passou quase 20 anos para o colocar na rampa de lançamento, operou-o no espaço durante cinco anos e perpetrou agora uma reentrada assistida com a demonstração de um novo método para o fazer.
As missões futuras da ESA (e de outras organizações) já têm de ser capazes de fazer uma reentrada orientada, com os motores de foguetão a terem de ser suficientes para fazer navegar a nave aeroespacial para um alvo marcado no oceano. Mas como a Aeolus foi criada há 20 anos, estes padrões não existiam e o satélite não teve um sistema de propulsão capaz de orientar a aterragem. Como estava numa órbita polar, o local de aterragem podia ser potencialmente qualquer ponto do planeta, com a ESA a estimar que 20% do satélite sobreviveria a entrada na nossa atmosfera e chegaria a tocar a superfície do planeta de volta.
Foi então em abril que os responsáveis da missão decretaram que o satélite seria para trazer de volta à Terra por esta altura, quando ainda tivesse algum combustível para algumas propulsões que o afastassem de zonas povoadas.
Holger Krag, da ESA, afirma que “isto é algo único, o que estamos aqui a fazer (…) não há exemplos deste tipo da história dos voos espaciais. A reentrada do Skylabd no final da década de 1970 – foi uma reentrada assistida semelhante ao alterar a altitude e consequentemente a área exposta”, cita o ArsTechnica. A expetativa, com esta experiência, é que a ESA se torne um modelo para outras agências e organizações comerciais de exploração do espaço, no que toca a lidar com o problema dos vestígios espaciais e os perigos de entradas descontroladas. A ESA está a colaborar com um parceiro suíço para uma missão em 2026 em que pretende demonstrar a remoção de um pedaço de lixo espacial da órbita.
O Aeolus, com as suas 1,1 toneladas, esteve sobrevoar a Terra numa órbita polar a 320 quilómetros de altitude e a sua missão passou por medir a velocidade dos ventos com um sofisticado laser colocado a bordo. O sucesso foi tal que está já previsto o lançamento da Aeolus 2 para o final da década. Os dados gerados foram incorporados em diversos modelos de previsões de clima, desde o lançamento com um foguetão Vega em 2018.
A missão custou mais de 500 milhões de dólares e o fim foi decretado em abril, com a intenção de usar apenas o efeito aerodinâmico de resistência e alguma propulsão controlada, como forma de conseguir uma descida orientada na passada sexta-feira. Os restos acabaram por se incendiar em trajetória algures em cima do Oceano Atlântico.