Como vê a evolução dos preços dos veículos elétricos? As previsões feitas há alguns anos, que apontavam há anos que apontavam para a redução de preços, não parecem estar a concretizar-se.
Estamos inseridos num grande grupo, a Volkswagen, o que tem muitas vantagens em termos de escala e volume. O grupo está a negociar com os fornecedores de modo a controlar o preço das baterias. Especialmente para a plataforma MEB, que vai ser usada pelas várias marcas do grupo nos modelos que vão ser lançados, diria, durante a próxima década. Estamos a fazer tudo para conseguir os melhores preços porque não podemos aceitar que os veículos elétricos aumentem de preço em vez de baixarem.
O Minimó apresentado no MWC não parece usar qualquer plataforma da Volkswagen. Isso diminui a possibilidade de este carro chegar ao mercado?
Por agora é um carro conceptual e não podemos ainda confirmar que vai entrar em produção. Mas estamos a trabalhar para isso. Sou o responsável técnico por este projeto e, como tal, posso garantir que estamos a levá-lo muito a sério o e a fazer tudo para que seja aprovado e que torne uma realidade.
O Minimó foi apresentado como uma solução para carsharing. A Seat vai fornecer este serviço ou está à procura de parceiros para o carsharing?
Já temos uma empresa de carsharing, a Respiro, que queremos que cresça. O Minimó é um produto perfeito para a Respiro e temos a intenção de fornecer este serviço em Espanha, Portugal e em outros países europeus. Mas, se o conceito avançar para o mercado, claro que poderá interessar a outras empresas, tanto para serviços de partilha de carros como para serviços de partilha de motos. Porque é isso que estamos a fazer com este conceito: combinar o melhor dos dois mundos.
Agora vamos analisar a reação ao projeto. Estamos aqui no Mobile World Congress e para a semana vamos estar com o Minimó em Genebra. São, provavelmente, os dois maiores eventos para mostrar este conceito, um mais virado para a área da tecnologia e outro mais virado para a indústria automóvel. Vamos perceber qual é a reação do mercado a esta proposta da Seat e, baseados nesta reação e na análise do investimento – como referiu, somos responsáveis pelo desenvolvimento de todo o carro, incluindo a plataforma –, vamos decidir.
De acordo com o anunciado, as baterias podem ser substituídas…
Sim, essa é uma das características chave para se conseguir a redução de 50% dos custos operacionais em plataformas de carsharing mencionada pelo nosso presidente.
Como vai funcionar a mudança da bateria? Será suficientemente leve para que seja o próprio utilizador a fazê-lo?
A ideia é garantirmos aos operadores a possibilidade de trocar as baterias. Para os operadores de partilha de motos é fácil porque já estão habituados a fazê-lo. Atualmente fazem essas operações recorrendo apenas à força humana, mas talvez no futuro se recorra a sistemas robóticos. Compreendemos que temos de ter preocupações ergonómicas para lidar com quatro módulos de 14 kg cada. E, por isso, se avançarmos com o projeto vamos recorrer aos nossos melhores especialistas de logística para garantir que o processo de troca das baterias seja muito fácil de realizar pelos operadores. Serão, à partida, eles os responsáveis pela operação de troca. Mas também poderá ser um serviço prestado pela nossa rede de pós-venda em cidades onde os operadores não tenham essa capacidade. Ou seja, poderemos vender todo um serviço e não apenas o veículo.
Muitas empresas estão a lançar ou planear serviços de carsharing. Isto não vai criar confusão nos utilizadores?
Parece-me que as plataformas têm de ser cruzadas. Não pode ser cada marca com o seu serviço. Acredito muito que os serviços vão ser localizados. Cada cidade vai ter quatro ou cinco operadores que trabalham nesta área. Alguns serão operadores internacionais e outros serão operadores locais. Ao nível do serviço, a nossa aposta é no Respiro, mas ao nível do produto, não nos restringimos à nossa plataforma. O Minimó poderá ser utilizado por outras plataformas que não só detidas pela Seat.
Considera que as plataformas de partilha deverão incluir diferentes tipos de transporte? Por exemplo, a Seat apresentou agora o Minimó, mas já comercializa trotinetes e, é claro, carros.
Sim, não nos podemos esquecer que somos, sobretudo, uma marca de automóveis (sorrisos). Dentro da nossa empresa Xmoba temos a plataforma Justmoove que deverá integrar todas estas soluções. A visão a longo prazo da Justmoove é incluir todas as soluções de mobilidade, incluindo a trotinete, o Minimó, os carros e até os transportes públicos.
A Seat está a trabalhar com autoridades locais para integrar esse tipo de plataformas na estratégia da mobilidade das cidades?
Sim, esse é um dos grandes objetivos. Para nós é crucial esse tipo de colaboração. Se as cidades quiserem complementar as redes de transportes públicos com as nossas soluções, estamos obviamente abertos a essa colaboração porque é o tipo de ideia compatível com a nossa visão da mobilidade nas cidades. Estamos já a trabalhar com a IBM para desenvolver o Mobility Advisor, um sistema de inteligência artificial que será capaz de ajudar os utilizadores a escolher a melhor opção de mobilidade de acordo com o seu perfil de utilização, a sua agenda, a sua situação… Estamos a tentar criar um ecossistema de mobilidade fácil de utilizar. Recorremos à IBM porque esta empresa é capaz de nos fornecer um assistente pessoal que interage facilmente com os utilizadores. Não será o utilizador a ter de escolher entre dezenas de opções. O sistema será capaz de recomendar de modo dinâmico e inteligente se, por exemplo, o utilizador deve usar um comboio e depois um Minimó ou, simplesmente, fazer o resto do percurso a pé.
Conteúdo originalmente publicado na Exame Informática Semanal 96 (1/3/2019)