Já todos conhecemos, e muitas vezes sentimos na pele, o efeito pernicioso desta praga conhecida como fake news. Influenciou o resultado de eleições e complicou a adesão à vacina contra a Covid, só para citar os exemplos mais flagrantes. O combate ao fenómeno tem juntado governos, órgãos de comunicação e até as próprias empresas que ajudam a propagar a dita desinformação.
Do lado bom da força estão a Priberam, a Universidade de Cambridge, a estação pública alemã Deutsche Welle e ainda uma agência de comunicação nórdica que se juntaram no projeto MONITIO para desenvolver um algoritmo de Inteligência Artificial (IA) que seja capaz de detetar notícias falsas.
A ferramenta começou por ser testada em colaboração com o Media Lab do Iscte, que usa as tecnologias de análise automatizada de conteúdos da Priberam no seu Barómetro de Notícias.
Para o projeto MONITIO, a empresa portuguesa, fundada em 1989 e que se tornou conhecida pelo dicionário, atualmente usado pela Amazon e pela Alexa, está a criar um conjunto de ferramentas capaz de monitorizar, traduzir, filtrar e categorizar conteúdos em 32 línguas diferentes. “Temos desde o chinês ao farsi”, exemplifica o CEO da empresa, Carlos Amaral.
Ainda na fase de investigação, a partir de março estará disponível um protótipo deste conjunto de ferramentas para ajuda aos fact checkers. “Não será um substituto [do trabalho das pessoas], mas uma ajuda”, sublinha o CEO da Priberam, Carlos Amaral.
O algoritmo em desenvolvimento terá a capacidade de ir buscar notícias a diversos meios, comparando a informação divulgada de forma a chegar a um veredicto sobre a veracidade das mesmas. O recurso à tecnologia de língua, pela qual a empresa é reconhecida, permitirá combinar conteúdos escritos nas 32 línguas, nas quais se inclui, obviamente, o português, com possibilidade de ir aumentando o número de idiomas. Este projeto, que Carlos Amaral classifica como “ambicioso”, obrigou à duplicação da equipa de desenvolvimento, só durante o último ano. E, ao contrário do dicionário, que a Priberam faz questão de manter gratuito, será alvo de uma estratégia de marketing e comercialização, tendo como potenciais clientes os grandes grupos de media.