A direção do Capítulo Português da Internet Society (ISOC Portugal) assumiu esta quarta-feira uma posição contra a venda do domínio de topo da Internet .ORG ao fundo de investimentos Ethos Capital. A venda, que está estimada em 1135 milhões de dólares (1017 milhões de euros), foi decidida pelo Conselho de Curadores da Internet Society (ISOC), que gere a organização, mas não se livrou das críticas dos capítulos da ISOC em vários países. Na Europa, já são conhecidas as posições críticas dos capítulos holandês e suíço da ISOC. O capítulo português juntou-se à causa, alegando que a gestão do .ORG vai passar a reger-se unicamente pelo aumento dos lucros, e pode estar manchada pelo facto de ter sido preparada por ex-funcionários da ICANN, entidade supervisora dos domínios de topo em toda a Internet, que terá a última palavra, autorizando ou vetando a venda do .ORG.
Para ISOC Portugal, a venda da Public Internet Registry (a entidade que explora o .ORG e que vai ser vendida ao fundo Ethos Capital e que é conhecida pela PIR) não obedece aos melhores critérios éticos. «No limite, a ISOC fica numa posição eticamente pouco saudável dado que, naturalmente, o novo dono da PIR, uma entidade privada cujo objetivo é maximizar o proveito do seus investidores, terá tendência a aumentar os preços dos registos em .ORG. Isto é, o benefício da ISOC pode resultar em prejuízo para outras entidades», refere um documento enviado pela direção da ISOC Portugal aos associados.
Além de defender um modelo participado por vários acionistas que representem o Estado e a sociedade civil, o responsáveis pela ISOC Portugal apontam o dedo a quem liderou este processo. «A venda envolve potenciais conflitos de interesse com ex-funcionários da ICANN. A ICANN pode vir a ser chamada a tomar uma decisão sobre o negócio: autorizá-lo ou vetá-lo. Pode também ter necessidade de definir regras suplementares mais claras de “períodos de nojo” para os seus funcionários superiores», salienta a tomada de posição da ISOC Portugal.
Em jeito de conclusão, a ISOC Portugal considera que a venda do domínio de topo .ORG põe em risco a própria lógica de exploração do domínio de topo que costuma ser associado a funções de representação institucional ou entidades sem propósitos lucrativos: «Os prejuízos reputacionais da venda para a ISOC são superiores às vantagens financeiras imediatas. Adicionalmente, uma entidade sem fins lucrativos, cujo financiamento vem no essencial de um fundo de investimentos, terá tendência a afastar-se e a dispensar a audição dos seus membros individuais e dos capítulos, e a concentrar a sua ação em questões essencialmente técnicas e pouco controversas. Sentimo-nos com legitimidade para termos receios sobre a evolução do modelo de governação de uma tal entidade».