É impossível ficar indiferente ao drama humano e ao embate de valores que a Europa vive e o Mundo repudia. Mas algo é diferente neste conflito, algo que já se conseguia antever com a guerra na Síria. Durante grande parte da nossa história os conflitos ajudaram a moldar a tecnologia, que depois se transferia como inovação para a sociedade civil, mas hoje algo aponta noutra direção. A inovação e a sociedade civil está a moldar como decorrem os conflitos bélicos de uma forma muito mais impactante.
Há uns anos, num outro conflito no Médio Oriente, vi como uma ONG/start-up a Hala Systems usava um simples sistema de deteção remota e pequenos transmissores para conseguir mapear o percurso de bombardeiros. Assim tornava-se possível enviar para uma rede de contactos de telemóvel mais de 140 avisos diários com alertas sobre zonas de risco de bombardeamento. Desta forma foram alertados mais de 2 milhões de civis salvando inúmeras vidas, evitado os impactos da utilização de bombas e de armas não convencionais como o gaz sarin fossem maiores entre as populações. Fizeram estas proezas tirando partido de tecnologia amplamente disponível e utilizando o poder da inteligência artificial para o bem. Podemos pensar que este é um assunto longe de nós, mas na verdade não o é, já que uma considerável parte da equipa multinacional de guerreiros tecnológicos para a paz desenvolve de forma discreta a sua operação na zona da grande Lisboa.
Podemos pensar que este é um assunto longe de nós, mas na verdade não o é, já que uma considerável parte da equipa multinacional de guerreiros tecnológicos para a paz desenvolve de forma discreta a sua operação na zona da grande Lisboa.
Ao longo destas semanas de guerra temos assistido como a Ucrânia, numa batalha de David contra Golias, se tem batido heroicamente no terreno e tem conquistado apoiantes em todo o mundo ocidental não pelas armas, mas através da transmissão das imagens da determinação do seu povo no terreno e das intervenções do seu aclamado presidente Volodymyr Zelensky. E pese embora os muitos esforços dos invasores em cortar todas as comunicações e redes elétricas no terreno, tal tem se mostrado impossível de alcançar. E só tem sido possível graças à utilização de tecnologia civil decorrente da investigação espacial e do desenvolvimento de novos materiais para baterias como no caso da rede de satélites da Starlink que permite que a internet flua sem necessidade de infraestrutura devido às baterias da Tesla que permitem alimentar os computadores, camaras e internet com elevada mobilidade e sem a necessidade de uma rede elétrica estável.
Adicionalmente vemos em imagens que nos chegam via redes sociais das cidades cercadas na frente de batalha como drones são usados para validar a segurança das estradas e corredores humanitários. Estes dão apoio analisando e preparando as deslocações de forma astuta e dissimulada recorrendo a simples equipamentos como aqueles que podemos comprar em qualquer loja de um centro comercial português.
Aprendendo da experiencia do sucedido durante a pandemia, assistimos também à união de inúmeros grupos de jovens que se mobilizam e organizam em grupos no Telegram e em plataformas como a Techfugees permitindo a circulação de informação segura para refugiados e apoiando as cadeias logísticas para colocar mães e filhos a salvo do conflito enquanto atravessam as zona de risco a caminho dos seu novos lares, tendo mais de 13 mil já chegado assim a Portugal.
Em Portugal autoridades como a Marinha e a IdD – Plataforma das Indústrias de Defesa Nacionais – já estão atentas a esta realidade, explorando iniciativas como as zonas livres tecnológicas e o investimento em start-ups de forma a testar tecnologia inovadora.
Em Portugal autoridades como a Marinha e a IdD – Plataforma das Indústrias de Defesa Nacionais – já estão atentas a esta realidade, explorando iniciativas como as zonas livres tecnológicas e o investimento em start-ups de forma a testar tecnologia inovadora que não cabe nos cânon da regulamentação ou apoiando inovação do mundo civil que possa ter impacto na missão que desenvolvem.
Vemos assim como o motor da inovação moldado por magos da tecnologia e obreiros da paz é aplicado num campo que estava reservado aos exércitos e corporações do sistema industrial militar, levando a inovação de todos os dias para fora do seu meio e ajudando as vítimas e promovendo a paz ao serviço da humanidade.
A inovação não tem género, raça nem credo e todo o seu potencial, fruto da astucia e resiliência de milhares de mulheres e homens em todo o Mundo, servirá o propósito que governos, legisladores, empresas, mas sobretudo, cidadãos quiserem que sirva. A inovação, em todas as suas formas e variáveis, pode e deve ser um instrumento vocacionado para o desenvolvimento e para a paz.