Em cinco horas, o costismo ruiu. O líder que ultrapassou a desconfiança europeia e dos mercados, um sistema financeiro fragilizado, uma pandemia, uma guerra na Europa e uma crise inflacionista não resistiu a buscas em São Bento, detenções no seu círculo político (e pessoal) e, o golpe de misericórdia, um parágrafo que revela que o primeiro-ministro está a ser investigado por crimes. A primeira notícia foi dada pelas 9h, António Costa anunciou a demissão às 14h. Oito anos, quase três mil dias, três governos depois – o último de maioria absoluta. Sem assumir ruturas ou abraçar reformas profundas, deixa uma economia estabilizada, emprego em máximos e um excedente orçamental. Mas também serviços públicos no limite, défice de investimento público e uma bomba-relógio chamada habitação. Como nos iremos lembrar do costismo? E o que virá aí, no momento em que o País quase certamente virará à esquerda ou à direita? No dia 7 de novembro, foi enterrado um ciclo da política nacional. Outro começa agora.
Com eleições marcadas para 10 de março, António Costa não conseguirá bater o recorde de Cavaco Silva à frente do Executivo, mas, tal como o social-democrata, marcará uma era da política portuguesa. O seu legado é, no entanto, mais difícil de definir. Em parte, isso explica-se pelos diferentes contextos em que governaram. Mas igualmente porque Costa se revelou mais um bem-sucedido gestor de crises do que um reformista ambicioso. E a relativa estabilidade em que o País vai a votos teve como espelho a degradação de várias áreas do Estado.