“Em termos de diversidade, as coisas têm vindo a mudar nas empresas. Não temos, em Portugal, a obrigatoriedade de quotas como existe em outros países e eu olho para essas quotas com um sentimento misto. Por um lado, tenho sempre aquela dúvida se fui contratada pelas minhas capacidades ou para preencher uma quota, mas, por outro, se nós não conseguimos ser o que não conseguimos ver, é benéfico que existam mecanismos que possam trazer mais mulheres para o mundo do trabalho. Acho que estamos a ir a um extremo para tentarmos encontrar um meio”, afirma Teresa Alves das Raparigas do Código, uma organização focada em desmistificar o papel das mulheres nas tecnologias.
Para a Engenheira de Sistemas, que falava no Painel subordinado ao tema “Diversidade e Inclusão” da conferência “Gestão de Talento no Setor da Tecnologia” as pessoas apenas “irão ser ser aquilo que podem ver” e se “eu não vejo mulheres a assumir posições de liderança é-me mais difícil tentar lá chegar. Pouco ser um pouco inconsciente, mas existe esse efeito. E é isso que nós estamos a tentar mudar nas Raparigas do Código. Queremos que as mulheres aprendam não só as partes técnicas, mas também que possam conhecer esta comunidade e ambicionar mais alto para pertencer a uma equipa e dar o seu contributo sem qualquer tipo de preconceito”.
Jà Ricardo Teixeira, CEO da Compuworks, advoga que as contratações devem ser feitas por mérito e pelas capacidades das pessoas e não por imposição ou moda. “A sociedade vai evoluir para uma coisa muito natural de não existir diferenças entre mulheres e homens. No setor tecnológico houve muito essa tendência de contratar mulheres para liderar porque ficava bem, era trend. Eu gostava de ter mais mulheres na empresa mas há atividades onde isso é muito difícil. Por exemplo, nós abrimos um processo de seleção para a área tecnológica e apenas tivemos a candidatura de uma mulher”, explica o gestor.
Mas a inclusão e a diversidade não se esgotam apenas na questão de género. Nos dias de hoje, segundo os dois conferencistas, as empresas de tecnologia estão a abrir cada vez mais os seus horizontes em matéria de recursos humanos.
“As pessoas diferentes acabam por ter perspetivas diferentes e isso permite construir coisas maiores e melhores. Mas não basta contratar. As empresas têm que garantir que após contratar, essas pessoas se irão sentir bem recebidas e integradas dentro da organização”, realça Teresa Alves.
A conferência “Gestão de Talento no Sector da Tecnologia” decorreu esta quinta-feira, no auditório da PLMJ, em Lisboa, e é uma iniciativa da EXAME, da Exame Informática, da Randstad e da Martech Digital.
Ricardo Teixeira, por seu turno, diz que, “hoje, quem está no mercado de trabalho, valoriza muito a responsabilidade social das empresas e a forma como elas olham para a sociedade. Mas não pode ser apenas uma estratégia. Tem que estar bem integrado no seu ADN. E quem entra numa empresa que tem esse ADN intrínseco e muito desenvolvido ou rapidamente é acolhida ou rapidamente é expulsa”.
E esse ADN não serve apenas para o recrutamento e bem estar dos seus colaboradores, como, nos dias de hoje pode ser uma arma de gestão e de negócio junto do mercado. “Se eu estiver a escolher um fornecedor de um determinado serviço e se tiver opções muito iguais, será nas pequenas coisas que irei encontrar as diferenças. E eu prefiro trabalhar com um parceiro que tenha valores e responsabilidade social mais próximos dos meus”, diz o CEO da Compuworks.
Por fim, Ricardo Teixeira dá o seu próprio exemplo para mostrar como o setor da tecnologia foi vital para ele entrar no mercado de trabalho. Em cadeira de rodas há cerca de 30 anos, devido a um acidente quando tinha 17 anos, entra para a Microsoft em 1997, sendo uma das cinco pessoas em todo o mundo que a empresa norte-americana escolheu para iniciar um estudo piloto sobre o teletrabalho. “No fundo, a Microsoft queria testar este modelo para poder empregar pessoas com mobilidade reduzida, quer fosse permanente quer temporária. Foi um projeto de grande sucesso, premiado a nível internacional, e acabou por ser a minha rampa de lançamento no mercado”, explica.
Com a pandemia, que o gestor diz que “fez acelerar o trabalho remoto em 10 a 15 anos, e com, as quotas de empregabilidade de pessoas com mobilidade reduzida para empresas com um determinado número de trabalhadores, a dificuldade atual “é conseguir encontrar pessoas com mobilidade reduzida com as qualificações necessárias para trabalhar nas áreas das tecnologias. As coisas estão a evoluir bem e há uma série de empresas que estão a fazer um bom trabalho nessa matéria”, remata Ricardo Teixeira.