Mais do que ser um “hub” de educação, Portugal tem de se afirmar como um lugar de captação e de retenção de talento. Os participantes no painel “O legado e o futuro”, da conferência Portugal em Exame, estão de acordo num ponto: os resultados obtidos pelas universidades e escolas de gestão nos rankings internacionais são bons, as qualificações do portugueses melhoraram muito mas os dirigentes das empresas têm de envolver mais os jovens na gestão, e também pagar-lhes melhores salários. Só assim poderão travar a fuga de “cérebros” para o exterior.
“Temos dificuldades em reter o talento jovem, e o investimento em capital humano não se traduziu ainda em produtividade. É difícil reter os jovens sem melhorar os salários. Esse é o grande desafio”, disse Joana Pais, vice-presidente do ISEG, falando no painel onde participaram também Alberto Ramos, country manager do Bankinter Portugal, e Vítor Ribeirinho, senior partner e CEO da KPMG Portugal.
“Não podemos continuar de braços cruzados. Se todos os anos formamos dezenas ou centenas de milhares de alunos estrangeiros, que não hesitam em escolher as nossas universidades, porque é que depois do curso se vão embora?”, perguntou, por sua vez, Vítor Ribeirinho.
Joana Pais referiu ainda que um dos entraves à retenção do talento é que “os jovens muito qualificados, quando entram no mercado, são mais formados do que os seus empregadores. Houve um salto na educação, mas teremos de esperar que os jovens mais qualificados cheguem a lugares de topo nas organizações ou que criem as suas próprias empresas para aproveitar melhor esse talento” Até lá, teremos de “deixar que as empresas cresçam. São as grandes empresas que podem segurar os jovens”, concluiu.
“Deixar as empresas fazerem o seu trabalho”
Admitindo que o contexto não tem sido favorável, Alberto Ramos referiu que a incerteza geopolítica e geoestratégica a nível mundial, assim como a falta de estabilidade governativa nacional, “até podem ser favoráveis aos portugueses” neste contexto específico, já que a flexibilidade e capacidade de adaptação são características que nos distinguem de outros povos. Mas, para o responsável do banco espanhol, é preciso “deixar as empresas fazerem o seu trabalho para termos uma economia forte.” Nos almoços mensais que mantém com clientes, o banqueiro apercebe-se de que os empresários “querem subir na cadeia de valor, digitalizar e reformular processos, afirmar-se em mercados externos. Estão muito mais focados nestes objetivos.”
Declarando-se “mais otimista”, Vítor Ribeirinho mostrou-se confiante de que a economia portuguesa pode “acelerar” se souber aproveitar os fundos do PRR e do Portugal 20-20, e também se o Orçamento do Estado para o próximo ano for aprovado. “ Não é fácil, mas se crescemos 6,8% em 2022, podemos fazer a diferença”, adiantou. Como exemplo, deu o da KPMG Portugal: “Quando sou questionado, pela organização global, quando cresço a dois dígitos, digo que somos um país pequeno mas com um impacto grande. Portugal tem centros de excelência que dão cartas no mercado global. São melhores do que os dos países de baixo preço, sendo que o nosso preço já não é assim tão baixo”.
Para Alberto Ramos, “as empresas nacionais estão a investir para crescer. Não estão à espera que as coisas aconteçam. Vejo cada vez mais as empresas a chegar aos objetivos que querem atingir”. E que não estão à espera de que a realidade fique mais previsível, porque “a incerteza é o novo normal”.
