O Presidente da SAD Futebol Clube do Porto, Jorge Nuno Pinto da Costa, comprou cerca de 79 mil ações do clube, em 24 ocasiões diferentes, desde 2020, altura em que começou o seu atual mandato enquanto líder dos azuis e brancos. Um número que representa 22% dos mais de 350 mil títulos que detém.
Só com estas aquisições efetuadas neste período, Pinto da Costa, à frente do clube desde 1982, viu o seu património valorizar mais de 10 mil euros, face à cotação atual de 1,14 euros por título, da SAD do FC Porto, em bolsa. Uma valorização de 14,2%.
A avaliação da sua posição seria ainda maior antes do final da semana anterior, altura em que o Jornal Económico noticiou que a CMVM, o regulador do mercado de capitais em Portugal, estaria a investigar a operação de compra de ações que decorreu no dia 1 de fevereiro, altura em que Pinto da Costa adquiriu 1350 ações da SAD azul e branca por 1,23 euros.
Em causa está um alegado incumprimento da lei, que diz que os dirigentes das empresas não podem comprar títulos das mesmas num prazo inferior a 30 dias face à apresentação de resultados. Ora, antes de comprar ações, o próprio Pinto da Costa anunciou que o clube ia divulgar as contas relativas ao primeiro semestre de 2023/24, por volta do dia 15 de fevereiro – algo que acabou por acontecer nesta segunda-feira, dia 19.
A confirmar-se o possível crime de Abuso de Mercado, a coima poderá variar entre os 25 mil euros e os cinco milhões de euros. À EXAME, a CMVM diz que está “sujeita a segredo profissional, pelo que não pode prestar esclarecimentos sobre a sua atuação no âmbito da sua atividade de supervisão de entidades”.
Impacto no mercado
“O caso das ações do FCP não deve ser visto como se fossem ações de empresas convencionais do PSI [índice bolsista português]. Trata-se de uma empresa desportiva, cujo objetivo não parece ser o de maximizar os lucros, mas sim alcançar um determinado nível de sucesso desportivo”, começa por explicar Vítor Madeira, analista da XTB, à EXAME.
O FC Porto está cotado em bolsa desde 1998 e no último relatório e contas da SAD, referente ao período 2022/2023, divulgado no dia 19 de outubro de 2023, Pinto da Costa detinha cerca de 344 mil ações, que correspondiam a 1,53% dos direitos de voto. Um número entretanto engordado.
As eleições para a presidência do clube vão acontecer no final de abril deste ano e estão a ser marcadas pela concorrência de André Villas-Boas, ex-treinador dos dragões, a Pinto da Costa, numa campanha que se prevê ser uma das mais disputadas dos últimos anos.
Questionada pela EXAME sobre as compras de ações e a investigação da CMVM, a SAD do FC Porto não respondeu.
O lucro de 35 milhões e os capitais próprios negativos
O FC Porto SAD divulgou esta segunda-feira, dia 19 de fevereiro, um lucro de 35 milhões de euros referentes ao primeiro semestre do exercício 2023/2024, contra o prejuízo de 10 milhões apresentado no mesmo período do ano anterior.
Os resultados – que seriam anunciados entre o dia 14 e 15 de fevereiro, de acordo com Pinto da Costa – acabaram por ser divulgados alguns dias depois, mas ainda dentro da lei. Em resposta à EXAME, a CMVM explica que nos “a informação financeira semestral deve ser divulgada (…), no máximo, três meses após o termo do primeiro semestre do exercício. Ou seja, no caso das SAD, até ao final de março, considerando que o exercício corresponde à época desportiva e não ao ano civil”.
Nos capitais próprios, o FC Porto conseguiu uma forte recuperação, mas o esforço não permitiu que passassem para terreno positivo (-8,5 milhões de euros vs -176 milhões no período homólogo). Uma situação que poderia ser revertida caso a verba de 9,6 milhões de euros relativos ao acesso aos oitavos de final da UEFA Champions League, tivesse entrado já nas contas. Só que, devido a normas de contabilidade, este valor só entrará no terceiro trimestre.
Os proveitos operacionais, excluindo a venda de jogadores, ascenderam aos 108 milhões de euros, mais cinco milhões do que no período homólogo.
Outra das novidades apresentadas pelos dragões prende-se com um acordo “com uma reputada empresa internacional” para que esta tenha uma “participação minoritária numa das empresas com os direitos comerciais do Grupo FC Porto”. Desta parceria resultará “a participação financeira de um montante estimado entre os 60 e 70 milhões de euros, a realizar no 4º trimestre deste exercício, que impactará diretamente nos capitais próprios”.
Devido a isto, houve uma reavaliação do valor de mercado do “cash-flow” gerado pelo Estádio do Dragão pela consultora Crowe (sujeita ainda a uma auditoria por parte da EY), que “apurou o valor de 279 milhões de euros”, pode ler-se no mesmo comunicado.