Na Twintex, empresa têxtil sedeada na Aldeia Nova do Cabo – com cerca de 600 habitantes – no município do Fundão, trabalham mais de 400 trabalhadores, de 15 nacionalidades diferentes. “Na nossa empresa comunicamos em quatro línguas: português, inglês, hindi e urdu [língua oficial do Paquistão]”, conta Beatriz Tavares, Relações Públicas, Marketing e CSR da empresa. A Twintex, que foi distinguida este ano com o Prémio Inovação em Prevenção – uma iniciativa da Ageas Seguros em parceria com a EXAME – precisamente na categoria ‘Pessoas’, é um exemplo de como as empresas podem ultrapassar um desafio que é um global, mas que ganha uma nova dimensão no interior do país: a falta de mão de obra.
Um desafio em várias etapas, e que começa no recrutamento: “Já somos muito conhecidos por integrar diversas nacionalidades e temos uma parceria muito próxima com o centro de migrações do Fundão. Eles albergam as pessoas, dão-lhes aulas de português, nós empregamos”, conta a responsável, que falava esta quinta-feira, em mais uma conferência do Fórum PME Global, promovida pela Ageas Seguros e que tem a EXAME como parceira, desta vez em Castelo Branco.
Encontrar novas respostas passa também, em alguns casos, pela inovação tecnológica e científica. Na grupo Beirabaga, que produz framboesas, mirtilos, groselhas e amoras, a solução assentou no desenvolvimento genético – em parceria com o Instituto Nacional de Investigação Agrária e Veterinária (INIAV) – de uma nova variedade de framboesa que requer menos 40% de mão de obra face às variedades atuais. “Tem a ver com a forma da planta, a fruta está mais disponível, destaca mais facilmente”, explica David Horgan, Diretor de Operações do grupo, para quem esta é apenas uma estação intermédia: “O nosso destino final será, devido a este problema de mão de obra, chegar a uma variedade em que seja possível a colheita mecânica”.
Por se tratar de uma nova variedade desenvolvida em Portugal – e que está neste momento na fase de ser patenteada – é também mais resistente às condições do ecossistema, como sejam as pragas típicas da região e, a prazo, a menor necessidade de água para o cultivo. Falar de inovação em prevenção é também falar de sustentabilidade. Na Beirabaga, com produção na Beira interior, Algarve e sudoeste alentejano, o investimento em tecnologias de rega e reaproveitamento de águas residenciais é já uma constante. Um problema para o qual a Greenvolt procura implementar soluções em Portugal. A empresa, dedicada à produção de energias renováveis – com destaque para a biomassa e para a produção descentralizada, ou seja, junto ao local de consumo, essencialmente solar fotovoltaico – tem neste momento em estudo a implementação de novos modelos para o problema da falta de água no país. “Esperamos vir a implementar um ou dois protótipos de dessalinização em Portugal”, conta o Diretor Executivo da empresa, Carlos Coelho.
“Todas estas empresas têm pontos comuns: estão focadas na sua transformação e na inovação”, destaca José Gomes, membro da Comissão Executiva do Grupo Ageas Portugal, para quem a prevenção obriga à constante adaptação das empresas e a uma análise de riscos global e integrada. De acordo com a seguradora, é a própria Agência Europeia para a Segurança e Saúde no Trabalho, quem calcula em €2,20 o retorno por cada €1 investido em prevenção. “Os custos diretos das empresas [com sinistros] são transferíveis para a seguradora. Já os indiretos, independentemente do que tenha subscrito, não são abrangidos. E são quatro vezes superiores”, ilustra Francisco Erse, responsável PME & Corporate do Grupo Ageas Portugal. São exemplos o know-how de um trabalhador sinistrado, com o qual a empresa deixa de contar temporariamente, mas também impactos mais abrangentes, como sejam a confiança dos investidores ou o próprio valor da marca.
Neste análise de riscos globais há que não esquecer as grandes tendências económicas da atualidade, como sejam a inflação, a contínua subida dos juros, a desaceleração do crescimento e a transposição do músculo económico para o extremo oriente. “Em 2023, 70% do dinamismo económico mundial está situado nos países asiáticos, com a China à cabeça. A Europa e os EUA estão a perder o pé à dinâmica da economia internacional e isso altera a correlação de forças”, nota o Bastonário da Ordem dos Economistas, António Mendonça. O especialista destaca ainda a tendência de fragmentação da economia internacional e de desaceleração da globalização, com os países a focarem-se cada vez mais em trocas com blocos que estejam geopoliticamente e geograficamente próximos. “Está a verificar-se uma concentração do comércio internacional nas proximidades e isso também nos deve fazer repensar o nosso posicionamento em termos das exportações”.
![](https://images.trustinnews.pt/uploads/sites/5/2023/06/230630_ageas-castelo-branco_20230629_005.jpg)