A Vivalto Santé comunicou esta semana a conclusão da aquisição da Lusíadas Saúde aos norte-americanos da Amil International. O valor do negócio não foi revelado mas Emmanuel De Geuser, Diretor-Geral do grupo francês, afasta os valores inicialmente avançados na comunicação social, em torno dos €300 milhões. Portugal é o terceiro país de expansão direta do grupo – depois da Suiça e de Espanha – negócios que, no total, terão ficado pelos €260 milhões, afirmou num encontro com jornalistas.
A recente aquisição do terceiro maior grupo de saúde privado em Portuga é mais um passo na estratégia de internacionalização da empresa francesa, que conta atualmente com uma rede composta por 91 unidades de saúde em França, Suiça, Portugal, Espanha, e também na Eslováquia e Chéquia, por via das aquisições feitas no país vizinho. A expansão do grupo – que emprega hoje 30 000 profissionais, dos quais 6 000 médicos – permitiu aos franceses duplicarem a atividade, para €2,2 mil milhões.
O responsável não descarta novas aquisições em Portugal e diz estar a olhar para outras oportunidades, embora de menor dimensão: “Pequenas unidades que possam complementar o sistema, mas não são game changers. Essa não é a nossa prioridade, para 2023 e 2024”. Um posicionamento justificado pelo atual contexto económico e que obriga a uma abordagem cautelosa, diz.
Para já, a aposta é no crescimento orgânico, para o qual está previsto um investimento de €32 milhões em 2023, para a ampliação da atual rede de cuidados da Lusíadas, nomeadamente ao nível da saúde dentária. “Queremos acabar 2024 com uma rede mais robusta”, afirma Vasco Antunes Pereira, CEO da Lusíadas Saúde, que registou no último ano um volume de negócios recorde – €387 milhões de receita operacional e EBITDA de €37 milhões, mais 10% e 92% face ao período homólogo, respetivamente. “De longe o maior desafio foi o tema energético, mais do que duplicámos o orçamento, mas conseguimos alcançar ganhos de eficiência que nos permitiram chegar à rentabilidade esperada”, conta o responsável pela unidade nacional.
Um modelo diferente
Na Vivalto Santé, 30% da estrutura acionista é controlada por médicos, que estão ainda presentes no Conselho de Administração do grupo. Um modelo que visa encurtar distâncias e trazer para a mesa da tomada de decisões os temas clínicos, com impacto na qualidade dos serviços médicos prestados e, por conseguinte, no desempenho financeiro da empresa. “É um modelo muito eficiente”, garante Emmanuel De Geuser, que descarta qualquer conflito entre os interesses financeiros dos médicos – na qualidade de acionistas – e o cuidado no atendimento dos pacientes. “Eles são acionistas da holding e não do hospital”, começa por esclarecer o responsável francês. E adianta: “Os médicos lutam imenso para melhorar o atendimento e têm em mente o melhor interesse dos pacientes, porque é com isso que lidam no dia-a-dia. Há uma consistência total entre ser acionista e médico”. Garante que o modelo – que prevê a partilha da criação de valor – é um elemento de atratividade para os médicos e de reforço do seu compromisso.
Sobre a possibilidade de instituir um sistema semelhante na recém adquirida Lusíadas Saúde, De Geuser diz não querer “impor um modelo”, mas adianta que o tema está a ser estudado. Para Vasco Antunes Pereira, “é uma oportunidade para fazer diferente”, reforçando a posição e o envolvimento do corpo clínico na organização. O sistema – se através de stock options ou investimento direto – ainda não está fechado, mas “o objetivo é claro”, diz. “Vemos valor nesse modelo”.
A integração de médicos no Conselho de Administração da Lusíadas permitiria assim a partilha, de forma mais estruturada, do conhecimento do corpo clínico, algo que já é feito atualmente embora de forma oficiosa. Eduarda Reis, que é Chief Medical Officer, e assume essa responsabilidade de partilha junto dos diretores, considera que o novo modelo – que diz promover a responsabilização do corpo clinico e a sua dedicação ao grupo – “será muito bem recebido pelos médicos”.