Desde que o icónico Savoy Hotel foi demolido, em 2009, que se olhava com curiosidade e pena para o espaço deixado por uma das unidades que mais marcaram o turismo da Madeira. Ali ficaram alojadas personalidades como Margaret Thatcher – que dá, entretanto, nome ao Thatcher’s Bar, por ter decidido celebrar ali as bodas de ouro –, e era a unidade escolhida por todos aqueles que queriam ter uma experiência mais exclusiva no Funchal.
Na altura, nas mãos de Joe Berardo e dos herdeiros de Horácio Roque, o projeto ainda arrancou, mas, em 2011, as obras pararam por falta de financiamento, e o hotel acabaria por ser vendido ao grupo AFA, em 2015, por cerca de €115 milhões. Era a terceira incursão de Avelino Farinha – rosto mais visível do grupo de construção de obras públicas – na área de hospitalidade, claramente a mais ambiciosa.
O Savoy Palace ergue-se destacado na paisagem do Funchal, com mais de 300 quartos de variadas tipologias, sete restaurantes, suíte presidencial, um SPA com 11 salas de tratamento e uma decoração exuberante da autoria de Nini Andrade Silva. O investimento nesta unidade rondou os €200 milhões e direciona-se a um público que valoriza exclusividade, ostentação e diversidade.
Os dourados presentes em todo o edifício contrastam com as referências à floresta laurissilva e à flora autóctone da ilha, enquanto as áreas de acesso exclusivo e os restaurantes requintados querem destacar-se pela diferença. No topo do edifício, o Galáxia SkyBar é também o espaço do restaurante de fine dining do hotel, que tem sido bem acolhido pela crítica gastronómica. A vista para o Funchal, a música ao vivo e o ambiente exclusivo – mesmo durante o dia, o local é reservado apenas a adultos – conferem-lhe um toque distintivo.
O investimento no Savoy Palacerondou os €200 milhões e direciona-se a um público que valoriza exclusividade, ostentação e diversidade.
Sob a batuta do chefe Carlos Gonçalves, que assumiu a direção-executiva dos restaurantes do grupo, no ano passado, o Savoy Signature tem conseguido evidenciar-se pela oferta de gastronomia que tem levado à ilha. Há comida regional, mediterrânica, com tendências orientais, mais saudável, mais simples… enfim, para todos os gostos, consoante o espaço que se escolher.
De olhos postos no pós-pandemia
De portas abertas desde 2019, o Palace tem, no entanto, sofrido vários reveses, enquanto procura afirmar-se no mercado. Primeiro, foi a pandemia que obrigou ao fecho de portas durante vários meses e, agora, depois de um verão já com a atividade a entrar em velocidade de cruzeiro, a invasão da Ucrânia por parte da Rússia. O mercado da Europa do Leste reveste-se de particular importância no segmento alto, e o Savoy Signature está a pagar uma fatura mais elevada do que gostaria.
No entanto, outras unidades tentam compensar esta realidade. Por um lado, hotéis como o Royal Savoy, que funcionam particularmente em regime de time-sharing e que contam com clientes fiéis, há várias décadas, garantem taxas de ocupação sustentadas – e sustentáveis. Luísa Correia, diretora daquela unidade, recorda à EXAME que há vários hóspedes que transitaram do Savoy Hotel, dos tempos em “que ela ainda era responsável pela receção”. Cumprimenta afavelmente os clientes com quem se cruza, todos com uma idade média avançada. Exceção feita para os que viajam em família, geralmente os nórdicos ou, no limite, os ingleses que aproveitam os períodos de férias para descansar na “Pérola do Atlântico” com as crianças.
Esta unidade hoteleira, que vista da estrada parece apenas um pequeno bed&breakfast, agiganta-se assim que o avistamos do lado do mar, com mais de 100 quartos, biblioteca, restaurantes e piscinas a ocupar os espaços. Durante os meses em que foi forçado a fechar, acolheu algumas obras de remodelação – num valor total a rondar os €5 milhões –, mas agora prossegue a atividade como se nada se tivesse passado.
No sentido de diversificar os públicos – e, portanto, de obter o retorno do investimento –, o grupo Savoy Signature, nome que adotou em 2019, decidiu abrir o NEXT by Savoy Signature. Um hotel que abraça a tecnologia e que está claramente a apostar num público mais jovem, que procura uma Madeira diferente daquela que durante muitos anos conhecemos: tal como a EXAME já escreveu na sua edição de fevereiro, o arquipélago não tem poupado esforços para rejuvenescer os mercados madeirenses.
A aposta da Associação de Promoção da Madeira só faz sentido quando os associados têm uma oferta que ajude à estratégia, e parece ser esse mesmo propósito que o grupo hoteleiro abraçou. O NEXT destaca-se pelo design contemporâneo – a cargo do ateliê RH+ Arquitetos – e pela digitalização de vários serviços. Aqui é possível fazer check-in e check-out sem qualquer contacto com funcionários do hotel – que estão, no entanto, disponíveis 24 horas por dia, desde o serviço à receção e também ao bar existente no piso térreo.
O que também funciona sem interrupções é o ginásio, onde é possível entrar com a chave dos quartos, em que se aposta numa decoração minimalista mas funcional. As espaçosas suítes podem ter vista para o mar, têm terraço com mobiliário que permite fazer refeições mais privadas, mesas em que é possível trabalhar tranquilamente, televisão e várias entradas USB para os diversos dispositivos de que possa precisar para a atividade laboral.
O NEXT assume-se como uma opção para os chamados nómadas digitais, que com as novas oportunidades de trabalho à distância escolhem, muitas vezes, destinos alternativos para trabalhar, ao mesmo tempo que podem aproveitar as vantagens da proximidade ao oceano e de um clima temperado. E se é certo que, na sala de pequeno-almoço, a primeira refeição da manhã pode ser mais barulhenta do que gostariam as pessoas com um acordar difícil – é muitas vezes aqui que se torna evidente a diferença entre um hotel de 5 estrelas e um de 4, como é o caso do NEXT –, a verdade é que a unidade disponibiliza uma boa alternativa: no Recharge, o restaurante que serve pratos leves e de inspiração tropical, tanto ao almoço como ao jantar, o pequeno-almoço à la carte é perfeito para um acordar com ar puro e o som do mar. Do jardim do Recharge, é possível ter acesso direto ao oceano, se não lhe apetecer um banho na piscina.
No rooftop do hotel há outro espaço com piscina e cantos acolhedores, ideais para levar um bom livro, e ainda um bar em que os cocktails de assinatura são o principal atrativo, tal como a vista sobre o mar, bem no centro do Funchal.
Continuar a crescer
O TUI Blue Madeira Gardens é a outra unidade do grupo Savoy Signature, na capital da Madeira, e é exclusivo a adultos. Os outros dois hotéis fogem do Funchal: o Calheta Beach, na Calheta, que foi a primeira unidade hoteleira em que o grupo AFA investiu e que é particularmente vocacionada para famílias, e o Sachharum, que recebe o nome em homenagem à cana-de-açúcar, cuja fábrica era precisamente no local onde se ergue este projeto.
Ricardo Farinha, administrador do grupo, está confiante nos próximos anos de atividade no setor da hospitalidade, apesar dos reveses que se têm sentido. Os mercados russo e ucraniano têm sido particularmente importantes no crescimento do turismo no arquipélago, e o atual conflito deixou marcas nas reservas. No entanto, os mercados norte-americano, inglês e do Norte da Europa deverão continuar a responder à oferta do grupo. O responsável vai voltar à estrada para promover internacionalmente as unidades do grupo, na certeza de que a Madeira continua a ter para oferecer algumas variáveis que são cada vez mais valorizadas num mundo em acelerada mudança: um clima temperado, gastronomia cada vez mais diversa e de qualidade, segurança, bons serviços de hospitalidade e um preço competitivo.
E questionado sobre se a Madeira ainda tem capacidade de acolher mais construção , Ricardo Farinha é perentório: não só tem como agradece, uma vez que a procura da região não cessa de aumentar.
O antigo Savoy Hotel pode ter desaparecido, mas há algo que é inegável: renasceu, agora em jeito de grupo, tal qual uma fénix que promete continuar a estender as asas.
O GRUPO AFA
Depois das obras públicas e da hospitalidade, o imobiliário cresce como terceiro pilar do grupo madeirense, que pretende continuar a expandir-se
> Savoy Residence – Casa Branca
O grupo AFA, que através da AFAVIAS se destaca no setor da construção, estreou-se com o projeto residencial, o Savoy Residence – Casa Branca. O objetivo foi oferecer, no Funchal, apartamentos de luxo, em que os moradores possam utilizar os serviços do Tui Blue Madeira Gardens, uma das unidades do grupo Savoy Signature. Os 29 apartamentos estão atualmente todos comercializados, e o grupo lançou-se em mais dois projetos imobiliários.
> Savoy Residence Insular
Nasce no icónico edifício da Moagem da Companhia Insular de Moinhos e manteve a famosa chaminé que se avista no centro do Funchal. É em seu redor que foram desenvolvidos 47 apartamentos e 12 lojas comerciais, divididos por quatro edifícios. Victor Sousa, general manager da AFA Imobiliária, levou a EXAME numa visita guiada pelo projeto, ainda em construção mas em que alguns imóveis já estão comercializados. Há duplex, triplex e lofts, e um rooftop comum com piscina infinita e vista para o mar, num empreendimento cujo investimento ronda os €60 milhões. O preço dos apartamentos começa nos €350 mil e os interessados já se fizeram ouvir. Na maioria, são estrangeiros, mas muitos emigrantes madeirenses estão a apostar neste edifício no centro da capital.
> Savoy Residence Monumentalis
Como o nome indica, é o projeto mais imponente do grupo, pelo menos até agora. Com conclusão prevista para o final do próximo ano, o Monumentalis ergue-se na conhecida Estrada Monumental – está atualmente em construção – e terá 147 apartamentos, sendo que 50 terão piscina privativa. Tal como todos os projetos residenciais com a assinatura Savoy Signature, o Monumentalis foi projetado pelo ateliê de arquitetura RH+. Este condomínio fechado vai ter um jardim comum com 3 500 m2, de um total de 11 500 m2 de área ajardinada; à semelhança do que acontece com as outras unidades residenciais, os moradores terão, através do Savoy Resident Card, acesso exclusivo às instalações e aos serviços da coleção de hotéis Savoy Signature.
O Monumentalis representou um investimento de mais de €100 milhões por parte do grupo AFA, e o preço dos apartamentos, cuja tipologia varia entre o T1 e o T4, começa nos €400 mil. Para Victor Sousa, este será um dos projetos com mais destaque no arquipélago da Madeira, distinguindo-se pela qualidade de construção, pelas áreas dos apartamentos e pela localização exclusiva – com vista para o mar, claro.
Seis hotéis, seis opções
> Savoy Palace
É não só a maior unidade hoteleira do grupo como também do Funchal. A sua forma ondulada pretende dar à ilha a fluidez que vem do oceano. É o mais luxuoso de todos os hotéis do Savoy Signature, com 5 merecidas estrelas
> Royal Savoy
Ambiente tranquilo e uma arquitetura típica dos hotéis de praia da Madeira. Extremamente bem conservado, é o preferido dos clientes de idade mais avançada ou de famílias do Centro e do Norte da Europa
> Saccharum
Entre a rocha e o mar, ergue-se um edifício que tentou não perder o carácter industrial, por forma a homenagear a fábrica de cana-de-açúcar. Os interiores pecam, talvez, pela falta de luz. O rooftop deste 5 estrelas tenta contrariar as sombras com uma piscina de beiral infinito e um agradável restaurante
> Calheta Beach
O mais antigo de todos os hotéis do grupo é essencialmente vocacionado para famílias. Com SPA, Kids Club e um regime de tudo incluído, pretende ser a opção ideal para quem quer descansar sem ter de se preocupar com o entretenimento dos mais pequenos
> Madeira Gardens
Este hotel, só para adultos, na zona do Lido, está a 10 minutos a pé da praia e é a unidade mais reservada e sossegada. Com duas piscinas, SPA e várias tipologias de quarto, é outro 4 estrelas do grupo
> NEXT
A mais recente aposta do grupo visa conquistar as gerações mais novas, com decoração minimalista e muita tecnologia à mistura
*Este texto foi originalmente publicado na edição n.º 457, de maio de 2022 da revista EXAME