Era a única instituição que ainda se aproximava das perspetivas do Ministério das Finanças. Agora, a Comissão Europeia está finalmente alinhada com a generalidade das outras entidades internacionais, que se têm mostrado significativamente mais pessimistas do que o Governo. No lugar de uma contração de 6,8%, os técnicos comunitários esperam agora uma quebra de 9,8% do PIB em 2020. O que significa que, em vez de ser menos atingida do que a média da União Europeia – como apontavam as previsões anteriores -, a economia portuguesa está agora entre as mais penalizadas. O Governo português inscreveu no Orçamento do Estado suplementar uma estimativa de -6,9%.
E isso não significa que a força da retoma seja simplesmente adiada uns meses. A recuperação da economia continua a ser forte em 2021 (crescimento de 6%), mas não é significativamente diferente da estimativa anterior (5,8%). Ou seja, poderemos demorar muito mais tempo a regressar ao ponto em que estávamos em 2019.
Esta previsão de Bruxelas está agora alinhado com os cenários base do Banco de Portugal e da OCDE para a economia portuguesa, que apontam para recessões de -9,5% e -9,4%, respectivamente. FMI e Conselho das Finanças Públicas estimam quebras de -8% e -7,5%. No entanto, algumas dessas instituições admitem que a contração possa ser ainda mais violenta num cenário de uma segunda vaga de infeções.
Este maior pessimismo da Comissão é alargado à generalidade das economias e é justificado com um desconfinamento mais progressivo do que se tinha antecipado. Isso significa que ainda há muitas empresas a trabalhar a meio gás e muitos trabalhadores ainda em casa. O relatório prevê uma quebra de 8,3% da economia da UE e 8,7% na zona euro. Espanha, França e Itália serão os países mais atingidos, com recessões de dois dígitos. São alguns dos principais parceiros comerciais de Portugal.
“O impacto económico do confinamento é mais severo do que esperávamos inicialmente. Continuamos a navegar em águas turbulentas e enfrentamos muitos riscos, incluindo uma nova onda de infecções”, afirmou o vice-presidente da Comissão, Valdis Dombrovskis. “Esta previsão é uma ilustração poderosa do motivo pelo qual precisamos de um acordo em torno do nosso ambicioso pacote de recuperação.”
Paolo Gentiloni, comissário para a Economia, sublinhou a mesma mensagem. “O coronavírus já tirou a vida a mais de meio milhão de pessoas por todo o mundo, um número que cresce todos os dias – e, em algumas regiões do mundo, a um ritmo alarmante”, lembrou. “A resposta política por toda a Europa ajudou a amortecer o impacto para os nossos cidadãos, mas esta continua a ser uma história de divergência crescente, desigualdade e insegurança. Por isso, é importante chegarmos a um acordo rápido acerca do plano de recuperação proposto pela Comissão – para injetar nova confiança e novo financiamento nas nossas economias, neste momento dramático.”