O surgimento de novos casos de contágio com o novo coronavírus em diversas zonas do globo, nomeadamente Coreia do Sul, Irão e Itália, está a aumentar os receios dos investidores em torno de um impacto económico generalizado do vírus e a pressionar fortemente as negociações nos mercados financeiros. Se os ativos de maior risco, como as ações, são penalizados, já os chamados ativos de refúgio como o ouro, o dólar ou as obrigações saem beneficiados.
O dia amanheceu vermelho nos principais índices europeus de ações, perante os sinais de contágio a países fora da China, onde o surto se iniciou no final do ano passado, circunscrito na altura à cidade de Wuhan. Esta manhã os principais índices de cotadas da zona euro e da Europa, que agregam as 50 ou as 600 principais empresas com presença em bolsa, o Stoxx50 e o Stoxx600, respetivamente, já estiveram a cair quase 4%. Na praça portuguesa, as perdas também já superaram os 3%. Títulos como a Galp e a Mota Engil derrapam entre 4% e 5% e às 11:00 não havia memso qualquer ação em terreno positivo na bolsa nacional.
Entre as praças europeias, Bruxelas e Amesterdão são as que mais valor perdem, com quedas de mais de 4%, seguidas de Frankfurt, Paris e Madrid, com derrapagens superiores a 3%. O Kospi, índice sul-coreano, tinha encerrado a sessão a cair 3,5%, depois de confirmadas sete mortes atribuídas ao vírus, naquele país asiático . O Hang Seng de Hong Kong tinha fechado o dia a descer mais de 1,5% e nos Estados Unidos os futuros associados à negociação dos principais índices fazem prever uma abertura em vermelho carregado, mais logo, com quedas superiores a 2,5% nos principais índices na negociação em pre-market.
“Os nossos leitores regulares saberão que os nossos quatro cenários projetados para o COVID-19 eram ‘mau, pior, feio e impensável’,” escrevem analistas do banco Rabobank numa nota a clientes esta segunda-feira, divulgada esta segunda-feira pela CNBC. “As atuais notícias sugerem que os riscos de um cenário “mau”, em que apenas a China seria afetada, esteja rapidamente a transformar-se em “feio”, com o aumento de taxas de infeção e mortes tanto em mercados emergentes na Ásia como em economias desenvolvidas.”
E se ativos como as ações são penalizados pela aversão ao risco dos investidores, já outras classes de investimento, como a dívida soberana, o dólar ou o ouro, beneficiam dos receios. As obrigações alemãs a dez anos apresentam juros ainda mais negativos – para quase -0,5%. A taxa portuguesa na mesma maturidade afundava para 0,2%. Do outro lado do Atlântico, os títulos do tesouro norte-americanos também acusavam a forte procura, com as yields a apresentar valores mínimos de quase quatro anos.
O valor da onça de ouro ganha mais de 2,5% para 1686,7 dólares, um novo máximo de sete anos para esta commodity. Em sentido inverso, e penalizado pela perspetiva de menor crescimento económico mundial que possa ser causado pelo coronavírus, estão os preços do barril de petróleo. Em Londres, a unidade Brent, referência para as importações nacionais, caía quase 4% esta manhã para 56,28 dólares por barril, o valor mais baixo em cerca de um ano. No fim de semana, o Fundo Monetário Internacional projetou que o novo vírus poderá retirar 0,1% ao crescimento do globo em 2020, um impacto que virá sobretudo pela pior prestação da economia chinesa, a segunda maior do mundo.
A corrida aos ativos de refúgio intensificou-se depois de confirmada a quarta morte pelo coronavírus na Itália (onde mais de 50 mil pessoas estão em quarentena), do surgimento da notícia de 12 a 50 mortos no Irão e de a Coreia do Sul ter confirmado um aumento do número de casos confirmados de 31 para mais de 800 nas últimas horas. O número de mortes, a nível global, já ultrapassa os 2.600.