O número de insolvências de empresas em Portugal deverá aumentar este ano pela primeira vez desde 2015. Ainda assim, antevê o Global Insolvency Outlook 2020, o ritmo de agravamento ficará abaixo das subidas médias global e europeia previstas para este indicador.
Segundo aquele estudo da companhia de seguros de crédito Euler Hermes, a que a EXAME teve acesso, o número de insolvências empresariais no País deverá alcançar as 2.590 no final deste ano, apenas mais 50 que as estimadas no ano anterior. A empresa – que é, com o BPI, uma das acionistas da Cosec – estima assim que as insolvências em Portugal subam 2% em relação a 2019, no primeiro agravamento em cinco anos.
A nível mundial, por outro lado, este será o quarto ano consecutivo de aumento, prevendo-se uma subida de 6% – de toda a forma, um abrandamento em relação ao aumento de 9% verificado no ano passado. Dos países considerados no relatório, apenas Brasil, Hungria, Lituânia e Grécia verão as insolvências recuar em termos homólogos, ao passo que no Chile, Eslováquia, China ou Singapura crescerão a dois dígitos. Coreia do Sul, Suécia, Japão ou Estónia terão aumentos semelhantes aos de Portugal.
A companhia de seguros de crédito atribui o comportamento global à conjugação de dois fatores: o ritmo de impulso persistentemente lento por parte das economias avançadas e do setor industrial; e os efeitos de abrandamento das disputas comerciais, das incertezas políticas e das tensões sociais.
“Embora as condições acomodatícias monetárias e financeiras globais ajudem, a guerra de preços e os salários mais elevados vão limitar as margens e traduzir-se em problemas adicionais para um maior número de empresas na maioria dos países,” sustenta Maxime Lemerle, líder de Sector and Insolvency Research da Euler Hermes.
Guerras comerciais e de preços penalizam
A Ásia, que representa um quarto das insolvências mundiais, deverá registar este ano um dos maiores incrementos de insolvências (de 8%), ainda assim um abrandamento em relação à subida de 17% verificada em 2019. A companhia de seguros de crédito justifica esse comportamento com a diminuição do ritmo de insolvências na China, depois de em 2016 e 2017 o governo de Pequim ter determinado a “limpeza” de empresas estatais “zombies” através daquele mecanismo legal. As estimativas da Euler Hermes não incluem ainda potenciais consequências para as empresas decorrentes do surto de coronavírus.
Este ano será também de mais perturbações de atividade empresarial nos Estados Unidos, onde se espera um aumento de 4% daquele indicador. Isto depois de 2019 ter aparentemente posto fim a uma década contínua de recuos no número de insolvências, pelas consequências da guerra comercial com a China e pelo comportamento de setores mais expostos à concorrência pelo preço.
Embora as condições acomodatícias monetárias e financeiras globais ajudem, a guerra de preços e os salários mais elevados vão limitar as margens e traduzir-se em problemas adicionais para um maior número de empresas na maioria dos países”
Maxime Lemerle, líder de Sector and Insolvency Research da Euler Hermes
Na Europa ocidental e na zona euro é esperado um novo ano de crescimento destes processos, na ordem dos 3%, sendo as subidas lideradas por países como a Dinamarca, Espanha e Países Baixos. A Euler Hermes atribui este comportamento às limitações da dinâmica económica do Velho Continente, à exposição dos setores industriais a guerras comerciais e transformações tecnológicas e a questões relacionadas com a redução de inventários no primeiro trimestre deste ano. França e Polónia deverão manter o mesmo número de processos de 2019.
Por regiões do globo, será contudo na América Latina – e muito por culpa das prestações do Chile e da Colômbia – que acontecerá o maior agravamento, de 13%.
O Global Insolvency Outlook 2020 acompanha a evolução das insolvências empresariais em 44 países que representam 87% do PIB global. Os elementos apresentados no estudo da Euler Hermes dizem respeito, no caso de Portugal, a processos de insolvências de pessoas coletivas e empresários em nome individual que constam da base de dados da Cosec – Companhia de Seguro de Créditos que, por seu lado, se baseia no portal Citius.