Há 22 anos, tinha nas mãos o desafio lançado pelos espanhóis do Santander de criar de raiz um banco de investimento. Escolheu Eduardo Stock da Cunha, João Ermida, Sofia Frère, Luís Bento dos Santos e Miguel Bragança para definir tudo do início, desde a marca às áreas de intervenção, passando pela estratégia. “Achei que revitalizar umas sociedades dispersas que o Santander tinha em Portugal com elevados prejuízos não faria sentido. Estava na Goldman Sachs e defendi que deveríamos criar um banco de investimento, ao estilo anglo-saxónico, que tivesse apenas cinco áreas – equity, fixed income, tesouraria, asset management e corporate finance – e que não concedesse crédito de longo prazo, como era hábito na banca de investimento da época”, relembra hoje António Horta Osório.
Três anos depois, o Santander de Negócios Portugal era o banco mais rentável do País. Mérito de Horta Osório e da sua equipa, já que a única pessoa que veio de Espanha foi um controller. “Revolucionámos a forma de fazer banca de investimento em Portugal, posicionámos o banco num nicho que existia em Inglaterra e nos Estados Unidos da América, mas não na Europa continental”, explica o atual presidente do Lloyd’s.
Talvez por isso, o Santander já tivesse novos planos para Horta Osório. Primeiro, o banqueiro acumulou com Portugal a responsabilidade pelo Brasil, onde o grupo espanhol tinha acabado de comprar o Banco Geral do Comércio, uma instituição de retalho. E, em 2006, seguiu para Londres para liderar o Abbey National, que acumulava elevados prejuízos. “Os desafios lançados pelo Santander deram-me uma enorme experiência de retalho no maior mercado da Europa. Graças a esse trabalho e ao facto de, durante a crise, termos resgatado, em colaboração com as autoridades inglesas, dois bancos, o Banco de Inglaterra convidou-me para ser membro não executivo do conselho de administração, a título pessoal”, relembra hoje Horta Osório.
Mais tarde, o bom trabalho de Horta Osório voltou a chamar a atenção das autoridades inglesas. Durante a crise, o governo inglês foi obrigado a intervir no Lloyd’s e injetou 20 mil milhões de libras na instituição. Em 2011, o português foi chamado para gerir o maior banco inglês, com um balanço muito complicado. “Foi um projeto muito difícil. Inclusivamente, passei por um burnout, em 2011”, recorda. A verdade é que o Lloyd’s recuperou e foi o único banco a devolver a totalidade das ajudas do Estado inglês. Agora, o desafio é garantir a sua performance perante a incerteza do Brexit e prepará-lo para ser o melhor banco digital do mundo.
E quanto ao futuro?
“Estou fora de Portugal há 13 anos, mas o sair é relativo, tenho cá a minha casa, sou administrador não executivo da Fundação Champalimaud, administrador-executivo da Sociedade Francisco Manuel dos Santos”, elenca. “Voltarei seguramente para estar a maior parte do meu tempo em Portugal. Quando, logo veremos”, diz, antes de acrescentar que nunca fez “planos muito concretos em termos de intensidade, mas sim de direção”. E isso inclui, admite, “passar mais tempo em Portugal”.