Pedro Abrunhosa foi uma das nossas capas mais inusitadas – há 22 anos não era habitual os artistas ocuparem lugar de destaque nas revistas dedicadas aos temas da economia –, mas não é preciso chegar aos dias de hoje para entender as razões de ser desta escolha. O músico revolucionou os palcos não só com a sua arte mas também com a nova dinâmica que imprimiu na indústria musical.
“Nenhum músico tinha sido capa da EXAME, porque a música continua a ser interpretada apenas como arte e nunca tinha sido abordada pelo lado do negócio. Juntar as duas coisas era visto quase como um pecado. Esta capa afastou fãs, desses que achavam que a arte e a comunicação devem andar separadas. Até certo ponto, têm razão, mas eu não estou a comunicar a arte, mas sim os espetáculos. Suscitou alguma reação de algumas pessoas, mas a arte também é indústria”, recorda Pedro Abrunhosa.
O título da capa da EXAME irritou-o “interiormente”, durante muito tempo, porque, segundo conta, “deu argumento aos detratores, que diziam que era tudo marketing”. No entanto, os sucessos sucessivos de Pedro Abrunhosa – o músico lançou, recentemente, o seu oitavo álbum, Espiritual – foram a melhor resposta aos críticos.
Foi o despertar do showbiz em Portugal, a perceção da existência do negócio do espetáculo e de que comunicar vai além da música. A imagem, o merchandising, as parcerias com marcas de grande consumo e a profissionalização de todas as infraestruturas necessárias à realização de um concerto juntam-se à transcendência do artista. “Também existe a transcendência porque senão não seria arte, mas a transcendência do artista ao ser colocada num suporte passa a ser um produto e, como tal, obedece às regras do mercado”, explica Pedro Abrunhosa.
Em 1997, o músico estava a promover o seu segundo álbum, Tempo, que foi quatro platinas. O primeiro, Viagens, tinha sido três platinas. Isto, numa época em que só se chegava a platina se se vendesse mais de 40 mil exemplares. Hoje, bastam 15 mil. Cavaco Silva era primeiro-ministro e um dos principais alvos da mensagem de Pedro Abrunhosa: “Cruzámo-nos várias vezes e respeitosamente ignorámo-nos”, admite.
Ainda hoje, o pioneirismo de Pedro Abrunhosa, mostrado pela capa da EXAME, é aproveitado pelas grandes empresas. “Comecei um périplo de conferências que dura até hoje. Vou às empresas falar sobre música, arte, ciência, espiritualidade, mas depois também sobre uma palavra que está muito na moda e que detesto, o empreendedorismo, que é sobre a capacidade de sair do sítio e se fazer a si próprio. Pelas escolas de comunicação, pelas grandes empresas. Todos os anos são umas trinta”, adianta.