Em 1996, à data desta capa, Melo Ribeiro era, há um ano, o primeiro português à frente da Siemens, que tinha oitenta anos de presença em Portugal. Mas há pelo menos dez anos que o gestor tinha definido que seria assim. Começou por estagiar no grupo, na Alemanha, pelo meio fez um MBA nos Estados Unidos da América e passou pela Texas Instruments, e, em 1984, toma a iniciativa de bater novamente à porta da Siemens. Começa nos eletrodomésticos, já em Portugal.
“Em pouco tempo percebi o que era necessário para liderar a Siemens. Ao fim de estar seis meses no grupo em Portugal, pedi uma entrevista ao chefe e perguntei-lhe o que seria necessário fazer para dali a dez anos ser o seu sucessor”, conta o gestor. O senhor Bühler começou por lhe dizer que ele era muito novo e que daqui a 10 anos ainda continuaria a ser muito novo, mas o português levava as respostas prontas: “Mas também o senhor tinha quarenta anos quando se tornou líder”, disse.
A fórmula era simples, mas intensa. Teria de passar por todas as áreas de atividade do grupo, pelas vendas, fábrica, grandes projetos, finanças e estrangeiro. “E eu fiz isso tudo, meticulosamente programado. Estive três anos em cada área, até que, quando chegou a altura de escolher, eu estava lá. Foi preciso muita paciência e perseverança, mas a vida é mesmo assim”, justifica Melo Ribeiro.
Mal chegou, defendeu que era necessário rever a estratégia para Portugal.
O negócio estava assente em fábricas low-cost, que iriam acabar por desaparecer, e a solução para o futuro estaria na inovação e em produtos de alto valor tecnológico. “Em dez anos, investimos mais de mil milhões de euros e criámos oito mil postos de trabalho em oito fábricas. Chegámos a ter 1,6 mil milhões de euros de volume de negócios, em fase de pico com a fábrica de semicondutores. O normal era 600 milhões de euros. Quando cheguei, a faturação rondava os 300 milhões de euros”, explica.
Entretanto, a Siemens, que produzia transformadores, cablagens para automóveis (era fornecedora da Autoeuropa) e quadros elétricos, foi vendendo áreas de negócio, mas as fábricas e os postos de trabalho ainda se mantêm em Portugal, esclarece Melo Ribeiro. O gestor também programou a sua reforma. Deixou a Siemens há dois anos, “quando ainda era desejado”. Agora, dedica-se aos negócios da família e ensina o que aprendeu a quem quer empreender. “Já previ os próximos 30 anos, vou partilhar o que aprendi, não só ajudando a criar empresas mas também estou ligado ao ensino, faço parte do conselho estratégico da Universidade Católica”, conclui Melo Ribeiro.