A empresa têxtil Ricon de Vila Nova de Famalicão avançou para o despedimento dos seus 580 trabalhadores, perante a alegada recusa da Gant em viabilizar soluções para o grupo, tornando praticamente irreversível a falência e liquidação de oito empresas.
A administração do grupo já enviou aos colaboradores as cartas que dão conta do fim dos contratos de trabalho, confirmou a empresa em comunicado citado pela Lusa, acrescentando que foi ainda enviada a documentação necessária para a concessão do subsídio de desemprego a todos os trabalhadores.
Até quarta-feira desta semana, de acordo com o Jornal de Negócios, além das operações industriais, todas as 20 lojas da Gant em Portugal serão encerradas na sequência do fim da parceria da Ricon com aquela marca de vestuário de origem norte-americana.
No comunicado desta segunda-feira, a administração da Ricon refere que o grupo “dependia de forma significativa da Gant, quer na vertente do retalho, cuja dependência era total, quer na vertente da indústria, cuja dependência era superior a 70%”.
O anúncio dos despedimentos e dos encerramentos ocorre ainda antes da realização a partir desta terça-feira, 30 de janeiro, das assembleias de credores das empresas, nas quais o administrador de insolvência Pedro Pidwell deverá defender que o grupo “não é economicamente viável,” pelo que se impõe o fecho das operações, segundo a edição de hoje do Diário de Notícias.
A multinacional sediada em Estocolmo terá, segundo o DN, recusado todos os cenários de continuidade da parceria, fosse através da entrada da empresa no capital da companhia, de novos investidores ou a reestruturação da dívida existente. O administrador de insolvência – que a EXAME tentou contactar – responsabiliza ainda no processo a empresa de factoring Eurofactor de ter recusado libertar verbas ao abrigo da cobertura de seguros de crédito que permitissem que a empresa se mantivesse em atividade.
Das 580 pessoas com despedimento agora anunciado, 200 estão empregadas na rede de retalho da empresa e as restantes 380 na área industrial. O património da operação seguirá para liquidação se os credores aprovarem a proposta do administrador. As dívidas reclamadas ascendem a 32 milhões de euros, tendo a banca metade deste valor a haver: mais de 16 milhões. A Gant, também credora, pede a entrega de 5 milhões.
Entretanto o presidente da Câmara de Famalicão, Paulo Cunha, disse à TSF que os a autarquia está já a criar “uma retaguarda de apoio” para sinalizar as situações que justifiquem o apoio social para “minorar os efeitos” do fim das operações. “A Câmara Municipal fará o que está ao seu alcance para que as consequências não sejam tão graves,” assinalou.
No espaço de menos de uma semana esta é a segunda grande empresa do setor têxtil a despedir em Portugal. Depois da insolvência da Triumph, em Sacavém, a companhia levou a cabo um despedimento coletivo dos 463 empregados da fábrica. Este domingo o ministro da Economia, Manuel Caldeira Cabral, anunciou que haverá investidores interessados na Triumph, mas advertiu que a solução pode demorar.
A Ricon começou a operação industrial em 1973. Em 1992, no âmbito da parceria com a Gant assinada um ano antes, abriu a primeira loja da marca em território nacional, expandindo em 2004 a representação para Angola e em 2006 para o Brasil. Em 1993 criou também a Decenio, vendida em 2015 à dona da Lion of Porches. No mesmo ano, o grupo alienou ainda os centros da Porsche que detinha no Porto e em Braga.
Notícia atualizada às 15:56 com referência ao comunicado da Ricon