Era uma prioridade de Álvaro Santos Pereira, que esteve cerca de dois anos no cargo de ministro da Economia e nunca teve vida fácil no governo, fruto, em grande medida, da pressão vinda do interior dos partidos que sustentam o governo. Pires de Lima, que o substituiu, diz que abraça a “causa da indústria” com o mesmo empenho, embora tenha sido evidente que o entusiasmo que Santos Pereira tentou imprimir fazendo do tema um ‘acontecimento’ se reduziu substancialmente.
É certo que a reindustrialização não se faz por decreto é matéria complexa e de difícil implementação, que só uma estratégia clara, consistente e consensual permitirá.
Porquê escolher Portugal para instalar uma indústria? A ExamE dá as respostas nesta edição. Baseadas em diagnósticos feitos há muito tempo. Os estudos estão feitos, só há que pôr em marcha as conclusões a que chegaram. Isso, em certa medida, tem estado a acontecer: se há algo que este governo fez desde que tomou posse, foi criar legislação, parte da qual resultante de imposições da troika. Isso trouxe alterações que vão no sentido de facilitar e agilizar investimentos, o que vai ao encontro da urgência de captar investimento para o país.
Mas legislar não chega, porque a lei fica muitas vezes no papel.
Há ainda muito a fazer. Como refere Pires de Lima nesta edição da ExamE, há custos de contexto inaceitáveis. E que só serão anulados quando, preto no branco, forem apontadas as suas causas. A cultura da desresponsabilização, enraizada há muito tempo em Portugal, tem tido consequências desastrosas para o desenvolvimento do país. Os casos de investimentos que se perdem por incompetência deviam ter os seus responsáveis devidamente identificados e penalizados. É aqui que os investidores têm uma palavra a dizer: têm não só o direito, como também o dever, de tornar públicos os obstáculos aos seus investimentos. As vezes que for preciso. Seria uma forma de fiscalizarem o governo.
O que é certo é que Portugal voltou aos radares internacionais e já há alguns investimentos relevantes no país, como o anunciado recentemente na Autoeuropa, que Pires de Lima recorda também nesta edição. Mas este regresso aos radares aconteceu antes da derrocada do Grupo Espírito Santo, que colocou o país novamente nas bocas do mundo pelos piores motivos. Os impactos que o fim de um dos grupos portugueses mais relevantes terá na economia ainda são uma incógnita, mas oscilarão certamente entre o ‘mau’ e o ‘péssimo’.
Este artigo é parte integrante da edição de setembro da Revista EXAME