DEFENDER A DEMOCRACIA. Para lá de todas as naturais divergências, Luís Montenegro e Pedro Nuno Santos têm um imperioso dever cívico comum: não se guerrearem nem agirem de forma a contribuir para o descrédito dos partidos, dos políticos, do regime democrático. Descrédito que é terreno fértil para os extremistas, os populistas, os violadores dos direitos humanos, cada vez mais poderosos e perigosos por todo o mundo.
Ora, o primeiro-ministro, que teve um relativamente positivo início de mandato, cometeu, naquela perspetiva, uma muito grave fala quando comparou/equiparou as duas manifestações na sequência da intervenção policial na Rua do Benformoso. Segundo ele, teriam sido promovidas por dois hipotéticos, semelhantes, “extremos” – ficando a virtude no “meio”, no PSD… A primeira, “Não nos encostem à parede”, por dezenas de associações antirracistas e de imigrantes, com o apoio de PS, BE, Livre e PAN, elogiada pelo bispo presidente da Conferência Episcopal, etc. A segunda, contra a primeira, a “Encostem-nos à parede”, organizada pelo Chega. Foi, é, repito, muito grave, e não está em linha com outras afirmações/ações de Montenegro, que devia encontrar forma de reparar o que disse.
AS PRESIDENCIAIS DE 2026. Terão começado demasiado cedo a ser matéria em destaque na generalidade dos média. Mas compreende-se, ou era mesmo inevitável. Assim, já há meses circulam nomes de prováveis candidatos. Todos de partidos, menos um: o almirante Gouveia e Melo. Não por acaso, e talvez também por isso, o até agora à frente nas sondagens. E o mais “contestado”, na perspetiva de uma espécie de falta de legitimidade política, por não se lhe conhecer percurso, a posição e o pensamento nesse domínio. O que, como militar no ativo, se pode explicar, veremos agora o que dirá. Seja como for, julgo não haver, para já, razão para a “classe política”, e adjacentes, se mostrar tão incomodada com a sua eventual candidatura.
Face à inexistência de uma indiscutível figura da sua área para Presidente, como o seria um António Guterres, os eventuais candidatos mais falados são partidariamente expectáveis ou explicáveis. O que me surpreende é não terem (quase) aparecido outros nomes, com uma dimensão e uma qualidade que faltam a alguns deles.
Exemplifico, com as “áreas” do PSD e do PS. Na primeira tem de ser um “militante” do partido, numa reveladora opção/decisão anunciada por Luís Montenegro. Ora, penso que ninguém do PSD seria melhor candidato do que Leonor Beleza. É certo que ela recusou essa hipótese, agora decerto já impossível. Mas não sei se teria sido possível antes, se… Porque a simples recusa, à partida, não significa impossibilidade. Quando eu disse a Maria de Lourdes Pintasilgo que a incluiria nas sondagens de O Jornal sobre as presidenciáveis, nas eleições de 1986, ela pediu-me para não o fazer, pois não queria nem nunca aceitaria ser candidata. Era seu amigo, tinha pertencido com ela à direção do Movimento para o Aprofundamento da Democracia, mas mantive o seu nome – e, contra as expectativas, ela apareceu em 1º lugar. Continuando, porém, a recusar ser candidata, até a convencerem de que tinha uma espécie de dever cívico de o ser. E foi.
Na área do PS, sua militante, creio que Elisa Ferreira é uma personalidade com um percurso, profissional e político, e um perfil que amplamente justificam a inclusão do seu nome como eventual muito boa candidata. Não militante, ressalta o nome de António Sampaio da Nóvoa, que surpreende (ou já não?…) nunca ser referido, quando em 2016, além do mais, teve o excecional apoio, e participação na sua campanha, de (com exceção de Cavaco Silva) todos os antigos presidentes: Ramalho Eanes, Mário Soares e Jorge Sampaio. E, sem nenhum expresso apoio partidário, em disputa com o “invencível” Marcelo Rebelo de Sousa, teve mais de um milhão de votos – enquanto a também respeitável Maria de Belém, ex-ministra e presidente do PS, teve um pouco menos de 200 mil.
À Margem
Trump e o “estado do mundo”
A minha tentação inicial era escrever sobre o chocante e deprimente espetáculo da tomada de posse de Donald Trump, com a imediata impudica ostentação de poder ao assinar cerca de cem “ordens executivas”, com transmissão em direto pelos média, tendo uma roda de jornalistas como pés de microfone.
Muitas dessas “ordens” constituindo ora a destruição do que antes fora feito de positivo, ora o perdão para condenados pela invasão do Capitólio, ora medidas perigosas para a Humanidade. Como são, em si e no que representam, retirar os EUA do Acordo de Paris, da OMS, etc., etc.
Uma tentação a que resisti: porque já (quase?) tudo foi dito a esse respeito, e porque não encontro palavras para exprimir o que sinto, também sobre o “estado do mundo” que revela tudo isto, incluindo os ultrarricos e os políticos ultraconvidados especiais…