A venda de automóveis elétricos e eletrificados (100% elétricos, híbridos plug-in e híbridos convencionais) representou, no primeiro trimestre deste ano, quase 30% das vendas totais do setor em Portugal. Um valor que confirma que há cada vez mais portugueses a optar por veículos que são mais amigos do ambiente – os números são da Associação Automóvel de Portugal. À medida que os fabricantes disponibilizam uma maior quantidade e variedade de veículos, as redes que suportam o carregamento deste ecossistema evoluem para abrir caminho à massificação da mobilidade elétrica.
A MOBI.E há mais de uma década que é a grande impulsionadora da eletrificação dos veículos, mas não só. A empresa do Estado foi pioneira a nível mundial no desenvolvimento de uma rede de carregamento de veículos de acesso universal. Um primeiro passo que definiu, bem, a ambição da MOBI.E:
«Consolidar a rede Mobi.E, uma rede de carregamento de veículos elétricos de acesso universal, interoperável e concorrencial, que assegure um serviço de qualidade a todos os utilizadores, para que seja possível uma transição para uma mobilidade mais sustentável e cumprir os objetivos a que o país se propôs em matéria de descarbonização.», explica, Luis Barroso, Presidente da MOBI.E.
O papel da empresa que gere e desenvolve a rede pública de carregamento elétrico passa por ter, igualmente, uma função de promoção e sensibilização para a importância da transição para a mobilidade elétrica e o efeito que essa decisão tem no ambiente e na economia: «O setor da mobilidade e transportes é um dos mais poluentes na Europa, produzindo cerca de um quarto do total das emissões (perto de 20 milhões de toneladas de CO2 por ano), mas apresenta um elevado potencial para cumprir os objetivos de atingir a neutralidade carbónica até 2050. Esta trajetória só é possível com uma transição para uma mobilidade mais sustentável, assente numa forte aposta nos transportes coletivos e partilhados, na eletrificação do transporte individual e no desenvolvimento da mobilidade suave. Portugal tem já uma produção de eletricidade maioritariamente baseada em fontes renováveis, e está a reforçar esta capacidade. A transição para a mobilidade elétrica será um dos principais vetores da descarbonização da nossa sociedade e da criação de um ambiente sustentável que queremos deixar para as próximas gerações.», reforça Luis Barroso.
A MOBI.E criou uma rede pública que tem agora todos os seus postos entregues a operadores privados. Uma estratégia que revela, muito bem, a preocupação em promover um ambiente de concorrência apoiado em regulação forte e transparente. Ainda este ano, esta rede de carregamento de veículos vai chegar a todos os municípios do país (hoje, já está em mais de 90%) e o objetivo continua a ser o de aumentar a capacidade de carregamento: «Este ano, para além de chegarmos a todos os Municípios, iremos instalar mais 102 postos de carregamento, em que mais de 50% serão rápidos ou ultrarrápidos, num piloto onde mais uma vez o investimento público, antecipa o futuro do desenvolvimento deste mercado. Os Operadores de Postos de Carregamento (OPC) têm o enquadramento e as condições necessárias ao reforço das suas redes, sendo que a MOBI.E continuará atenta a estes investimentos e, enquanto instrumento público, intervirá sempre que se justificar, para cumprir o objetivo de duplicar a rede Mobi.E nos próximos anos.», descreve Luís Barroso, o plano a 5 anos da MOBI.E.
Portugal ao optar pela obrigatoriedade da ligação de toda a infraestrutura de carregamento de acesso público em torno de uma rede única, a rede Mobi.E, veio permitir aos utilizadores uma liberdade de opção que possibilita, através da contratação de apenas uma das várias ofertas de energia dos diferentes comercializadores, poder carregar o seu veículo em qualquer posto de carregamento do país. É esta universalidade que distingue pela positiva, reforçamos, o nosso modelo de mobilidade elétrica e cuja filosofia começa a ser adotada noutras geografias.
Afinal, quais são as diferenças entre os veículos elétricos?
Começámos este texto por dizer-lhe que os automóveis 100% elétricos e os híbridos convencionais ganham terreno em Portugal. Está na altura de explicar-lhe quais as diferenças entre estes veículos.
Os 100% elétricos são todos os automóveis movidos de modo totalmente elétrico e cuja bateria pode ser carregada a partir de uma fonte de energia externa (plug-in). Ou seja, são os carros elétricos que trazem uma ficha para carregar a bateria e já não têm qualquer outro motor, além do motor elétrico. No entanto, além destes BEV – Battery Electric Vehicle, a categoria dos veículos elétricos também inclui os híbridos plug-in (Plug-in Hybrid Electric Vehicle ou PHEV). A grande diferença é que os PHEV continuam a ter um motor de combustão e incluem baterias de menor dimensão que podem ser carregadas por fontes externas.
A autonomia em modo elétrico deste tipo de automóvel é, normalmente, de 40 a 60 km, mas já existem modelos com quase 100 km de autonomia sem usar combustível.
«Este ano, além de chegarmos a todos os Municípios, iremos instalar mais 102 postos de carregamento, em que mais de 50% serão rápidos ou ultrarrápidos
Luís Barroso, presidente da MOBI.E
E não existem outros veículos elétricos?
Não, não existem. Os híbridos convencionais não são considerados elétricos. Elétricos são aqueles que podem mover-se apenas com base em energia elétrica (PHEV e BEV), obtida de uma fonte externa. Os híbridos convencionais são eletrificados, mas não elétricos (podem fazer alguns kms em modo elétrico, mas esta energia é obtida do motor de combustão, não de fonte externa).
Nestes veículos é usado um motor elétrico, associado ao motor de combustão, com potência suficiente para mover o veículo a baixas velocidades durante alguns quilómetros. O Toyota Prius foi o criador desta categoria. Nestes veículos não é possível carregar a bateria a partir de uma fonte externa – ou seja, toda a energia elétrica é produzida quando o motor elétrico recebe potência: do motor de combustão ou da recuperação feita nas desacelerações e descidas.
E esclarecemos a primeira dúvida. Agora que sabe as diferenças entre os tipos de veículos elétricos, está na altura de saber qual é o mais indicado para si.
Como usar os postos MOBI.E
- Estabelecer um contrato com um Comercializador de Eletricidade para a Mobilidade Elétrica, o qual lhe fornecerá um cartão ou uma App para aceder a todos os postos de carregamento da rede Mobi.E. O site da MOBI.E tem uma lista atualizada destes comercializadores.
- Verificar, de preferência antecipadamente, as condições de carregamento dos postos que pretende usar (potência do carregamento, tomadas disponíveis e custos). Para o efeito, recomendamos a consulta ao site da MOBI.E.
- Usar o cartão ou a app para ativar o posto e iniciar o carregamento – em Postos de Carregamento Rápido, os cabos estão incluídos no posto, mas nos Postos de Carregamento Normal o mais comum é o utilizador ter de recorrer a um cabo Type 2 (fornecido com a maioria dos carros elétricos).
- Usar o cartão ou a app para encerrar o carregamento.
- O valor a pagar será faturado ao utilizador, normalmente através de débito bancário, pelo seu CEME.
O hábito define o veículo
Considerando o preço elevado e os custos associados, a escolha de um automóvel deve resultar de uma análise cuidada. O que também é, naturalmente, válido para os veículos elétricos. Além das questões comuns aos outros automóveis, há que considerar características específicas desta tecnologia.
É importante começar por esclarecer que boa parte dos modelos 100% elétricos mais recentes já apresentam autonomias reais superiores a 300 quilómetros, o que significa que, para a esmagadora maioria dos condutores, a autonomia deixou de ser uma limitação real. Até porque, com o expandir da rede de carregamento rápido, é fácil acrescentar autonomia em viagens muito longas – já lhe explicámos como a MOBI.E o está a fazer em Portugal. No entanto, quando começar a analisar a sua escolha tenha atenção ao standard utilizado para medir a autonomia. Atualmente, o mais usado é o WLTP, que apresenta resultados mais realistas que o método NEDC. Para verificar e comparar as autonomias reais em diferentes tipos de condução, recomendamos o site https://ev-database.org. Atenção que a autonomia depende muito da capacidade e baterias de maior capacidade tendem a ser mais caras. Como as baterias representam uma percentagem importante do custo de um veículo elétrico, optar por um VE com autonomia acima das necessidades pode representar um investimento sem grande sentido. Por exemplo, se faz, em média 40 ou 50 km por dia e só raramente faz mais que 200 km, para quê comprar um carro elétrico com autonomia de 400 km? Até pode ser contraproducente porque uma bateria maior representa mais peso o que leva a consumos mais elevados.
Nos veículos elétricos, ainda é muito comum analisar-se apenas a autonomia e não o consumo. O que não faz sentido. Aliás, basta considerarmos que pouca gente se preocupa com a autonomia máxima de um carro a gasolina, mas praticamente todos se preocupam com o respetivo consumo. Consumos de energia mais baixos, um valor normalmente expresso em kWh/100 km (o equivalente dos elétricos a litros/100 km dos veículos tradicionais), representam, naturalmente, menos custos. Mas há outras vantagens: maior autonomia para a mesma capacidade de bateria e, muito importante, potencial para carregar mais depressa. Isto porque se um carro elétrico consumir 15 kWh/100 km e carregar a uma potência média de 30 kW, uma hora ligado ao carregador permitirá recuperar 30 kWh (30 kW x 1h) o que representa 200 km de autonomia para um consumo médio de 15 kWh. Mas se o mesmo carro consumir apenas 10 kWh/100 km, então na mesma hora será possível recuperar 300 km de autonomia.
Esta característica é tanto mais importante porque os nossos testes têm demonstrado que há diferenças muito grandes de eficiência. De tal modo que no mercado é fácil encontrar carros maiores e mais potentes com consumos menores que carros mais compactos e menos potentes.
Esta é uma característica que conduz a muitas confusões, já que nem sempre é fácil compreender as diferenças entre potências e tipos de carregamento. Sobretudo para quem não está familiarizado com a linguagem técnica. Em resumo, o que precisa de saber é quais as velocidades de carregamento em cada tipo de carregador, desde a tomada lá de casa até aos postos de carregamento rápidos (ou mesmo ultrarrápidos). Em regra, os fabricantes indicam quais as potências máximas suportadas pelos diferentes tipos de carregamento, informação que, conjugando com o consumo médio indicado no ponto anterior, permite-nos ter uma ideia da velocidade de carregamento. Ou seja, em média, quanto quilómetros se carrega por hora.
Os carregamentos podem ser feitos normalmente usando corrente alternada – AC, o tipo de energia elétrica que chega às nossas casas – ou em corrente contínua (DC). As maiores potências de carregamento usam corrente DC, como é o casso dos Postos de Carregamento Rápido (PCR). Os Postos de Carregamento Normal (PCN) usam corrente alternada. Verifique quais as potências máximas suportadas pelos veículos elétricos em cada um destes casos (AC e DC). Se, por exemplo, planeia instalar e usar, sobretudo, uma wallbox (muito comum em empresas), então deverá valorizar carros com elevada potência de carregamento em AC (11 ou mesmo 22 kW). Se, por outro lado, vai carregar em casa, onde a potência costuma ser baixa, uma potência de carregamento em AC de 7 kW é mais do que suficiente. Se vai fazer viagens longas com regularidade ou planeia carregar muitas vezes em PCR ou mesmo postos ultrarrápidos, então deverá valorizar uma elevada potência de carregamento em DC (100 kW, por exemplo).
Esta característica dos veículos é também muito importante, aquando da sua utilização, na hora de decidir qual o carregador da rede Mobi.E que irá utilizar. Deverá sempre escolher um carregador normal, rápido ou ultrarrápido com uma potência adequada às características do seu veículo, para que não esteja a pagar mais num carregador com uma potência que o seu veículo não aproveita. No site da Mobi.E poderá facilmente encontrar as caraterísticas dos postos de carregamentos e de todas as tomadas disponíveis na rede Mobi.E.
As baterias podem ser criadas usando uma grande variedade de tecnologias e arquiteturas. Informação muito técnica que, em regra, não aparece na listagem de características dos VE. Mas há uma característica importante para utilizadores mais intensivos, ou seja, para quem planeia fazer muitos quilómetros por dia, como é o caso de táxis ou similares: o sistema de refrigeração. Quanto melhor for o sistema de controlo térmico da bateria, melhor será, à partida, a capacidade para a bateria suportar uma utilização mais exigente durante mais tempo. Isto porque sabemos que as baterias duram mais tempo sem perda de capacidade evidente quando trabalham próximo das temperaturas ideias. Uma utilização mais intensiva, como velocidades mais elevadas (autoestrada), mais carregamentos rápidos ou acelerações fortes frequentes, leva ao sobreaquecimento da bateria se esta não estiver equipada com um bom sistema de controlo da temperatura. Felizmente, é cada vez mais comum que os veículos elétricos usem baterias com sistemas de refrigeração avançados, muitas vezes com base em circuitos de líquidos.
Afinal, devo optar por um carro 100% elétrico ou por um PHEV?
Já explicámos que se faz poucos quilómetros por dia (os tais 40 ou 50 km) a sua opção pode manter-se num carro elétrico. No entanto, se só raramente faz mais de 200 km para quê comprar um carro elétrico com autonomia de 400 km? Até pode ser contraproducente porque uma bateria maior representa mais peso o que leva a consumos mais elevados. Se está neste cenário, um veículo elétrico com uma autonomia mais reduzida (até 200 km, por exemplo) pode ser uma opção a ter em conta. Estará a pensar, por certo, que o preço mais elevado dos carros elétricos não compensa neste cenário. Na verdade, vai compensar, mas mais a longo prazo. É preciso não esquecer outras variáveis a ter em conta além da óbvia poupança no custo do combustível. A verdade é que os Custos Totais de Propriedade (os custos associados a ter o veículo ao longo do seu tempo de vida, também designados por TCO ou Total Cost of Ownership) são muito inferiores num carro elétrico quando comparados com um carro a gasolina ou a gasóleo. Como cada caso é um caso, faça bem as suas contas. Informe-se quais são os custos previstos, não esquecendo que os elétricos têm custos de manutenção muito mais baixos (não precisam, por exemplo, de óleo de motor ou filtros de combustível), são isentos de imposto de circulação e têm consumos muito melhores em termos de valor.
Se o carro for adquirido por uma empresa, então não há dúvidas: os elétricos (e plug-ins) são muito mais competitivos em termos de custos do que os concorrentes com motores Diesel. Além das vantagens de custos já indicadas, os elétricos estão isentos de tributação autónoma, o que representa uma enorme vantagem fiscal. Em algumas simulações, o TCO de um VE para frotas de empresas pode ser inferior a metade do TCO de um veículo equivalente com motor a gasóleo.
Do lado dos PHEV temos parte das vantagens dos veículos 100% elétricos (com as óbvias poupanças de combustível) e, em termos de autonomia, a possibilidade de fazer distâncias maiores recorrendo aos mais frequentes postos de combustível.
Acresce que a rede Mobi.E tem também vindo a aumentar, o que permite encontrar mais opções de carregamento, na hora em que necessite de carregar o seu veículo, com a vantagem de o poder fazer enquanto trabalha, faz as compras, toma a sua refeição ou descansa.
Cuidados a ter com a bateria do seu veículo elétrico
Há algumas técnicas simples que permitem manter a ‘saúde’ da bateria durante muito tempo, de modo a garantir que a capacidade útil se mantenha satisfatória para toda a vida do veículo.
Evite cargas e descargas completas
Considerando que as baterias perdem longevidade quando chegam a níveis baixos de carga, o melhor é evitá-lo. Ou seja, sempre que possível recarregue a bateria quando a percentagem de carga atinge um nível baixo. Alguns especialistas usam 10% ou 20% como referência, mas a verdade é que não há um número mágico. Simplesmente evite que a percentagem de carga se aproxime de 0%. Já agora, embora não seja tão grave, o melhor é evitar cargas completas constantes e, sobretudo, manter a bateria a 100% durante muito tempo (veículo parado com a bateria totalmente carregada). Se possível – alguns VE têm esta opção – programe o carregamento para não ultrapassar os 80% ou 90%, a não ser quando precisa da autonomia extra para viagens mais longas.
Descarregue lentamente
Como o número de ciclos de carga/descarga é um dos fatores mais importantes na degradação, é natural que quanto menos for necessário carregar, melhor. Deve optar por uma condução económica: mais suave, sem acelerações e travagens fortes. A regra é quanto menos usar os pedais, mais eficiente será a sua condução. Opte pelo modo Eco, quando disponível e escolha, se possível, um nível de regeneração mais forte nas descidas e em condução urbana e menos forte em vias em ‘estrada aberta’, como vias rápidas e autoestradas (nestas é melhor deixar deslizar). Regra geral, é preferível usar velocidades mais elevadas nas descidas que são seguidas por subidas em vez de usar a regeneração. E, claro, se for possível reduzir a intensidade ou mesmo desligar o ar condicionado, tanto melhor.
Carregue lentamente
Os carregamentos com maior potência aumentam a temperatura e, por isso mesmo, podem ser negativos para a longevidade das células. Como tal, recomendamos que restrinja os carregamentos de maior potência tanto em número como em tempo. Prefira fazer carregamentos de baixa potência (durante a noite, por exemplo) e deixe os carregamentos em Postos de Carregamento Rápido ou Ultrarrápido apenas para quando é mesmo necessário (viagens longas).
Cuidado com a temperatura
Evite carregar o VE sob o sol intenso naqueles dias de verão especialmente quentes, sobretudo em veículos sem sistema de refrigeração das baterias, ou após viagens longas a alta velocidade. Idealmente, o veículo elétrico deve ser guardado em zonas frescas, embora os possíveis ganhos com esta técnica sejam muito residuais.