É uma das pedras basilares, um alicerce, da ideia de Estado Social e de justiça social. A comunidade garante que quem deixa de trabalhar terá condições de vida minimamente dignas. Sabemos que trabalhamos, também, para que outros possam deixar de trabalhar. É uma conquista, diria que inquestionável, do modo como se construíram as democracias, em nome de um bem comum e de direitos para todos. Mas muito do que nos parecia “inquestionável” está hoje sob ameaça vinda dos ares que sopram do lado de lá do Atlântico: os de uma espécie de anarco-capitalismo, com a marca de Javier Milei, na Argentina, e de Trump, que se considera novo rei do mundo. As suas teorias, e práticas, parecem uma preocupante fuga em frente do capitalismo moderno no momento em que este se confronta com as suas contradições e limitações. Acelerar no caminho da lei da selva – com menos regulações e um Estado mínimo – parece ser a proposta, muito simplificada, apostando, ainda, num efeito de trickle down que já se provou demasiadas vezes que não funciona na diminuição de desigualdades. Defender a política como a procura de um “bem comum” e a economia como uma ciência social que visa gerir e administrar da melhor maneira, para todos, bens escassos (e não como um sinónimo de “práticas para a maximização dos lucros o mais rápido possível e para um crescimento permanente”) parece ser uma grande luta dos próximos anos.
Não digo que o atual governo português esteja alinhado com esses ares que sopram da Argentina e dos EUA…