As eleições internas no PS arrancam para duas semanas decisivas e uma pergunta impõe-se: Pedro Nuno Santos (PNS) é o candidato do gonçalvismo, como foi dito no congresso do PSD? Em primeiro lugar, temos de explicar, em três ou quatro linhas, o que foi o gonçalvismo, um conceito estranho à maior parte dos atuais eleitores: em 1975, um militar, o general Vasco Gonçalves, foi primeiro-ministro de quatro governos provisórios, antes das primeiras eleições legislativas. Vivia-se o processo revolucionário subsequente ao golpe do 25 de Abril e o “companheiro Vasco” – expressão inspiradora de uma música de intervenção da época (Força, força, companheiro Vasco / nós seremos a muralha de aço) – era um homem próximo do PCP, lá colocado pelos comunistas, para patrocinar a vitória da vanguarda revolucionária, tendo por objetivo impor a “ditadura do proletariado”, como na Rússia de Lenine, em 1917/18. Foi o período do “gonçalvismo”. Pronto: para o PSD, o candidato considerado mais forte à liderança do PS, apesar de ter nascido dois anos depois dos acontecimentos, representa este período histórico.
Ora, Pedro Nuno Santos, só pelo facto de estar no PS, é insuspeito de gonçalvismo. Mas ele pôs-se a jeito: há de persegui-lo, sempre, a frase com que, nos tempos da troika, definiu todo um programa revolucionário: “Não pagamos!”– e as pernas dos banqueiros alemães até tremeriam – mesmo que, depois, tenha feito parte do governo do “Ronaldo das Finanças”, estrela do Eurogrupo. E o ex-ministro nunca escondeu a sua preferência pela geringonça, “de boa memória”, uma solução que junta ao PS os herdeiros da esquerda revolucionária de 1975 (no BE) e o próprio Partido Comunista Português.