Este fim de semana, milhares de famílias portuguesas iniciam as suas férias. Os estudantes, após queimarem as pestanas nos testes e exames, entram agora na party season (época de diversão) e podem desbundar na beach (praia), na night (noite), nos rooftops (esplanadas instaladas no topo dos edifícios) e em todo o tipo de sítios (às vezes também designados por “facilidades”) cool (fixes) e trendy (na moda). Os mais velhos, cumpridos os afazeres profissionais, ficam também livres para o ócio e o descanso, esconjurando possíveis “burnouts” (esgotamentos) e crises de “stress” (ansiedade), com tempo de sobra para sessões contínuas de “binge-watching” (visionamento prolongado de séries nas plataformas digitais), de “binge-drinking” (consumo excessivo de álcool) e de convívio nas “drawing rooms” (salas de estar ou de entretenimento) dos amigos. O período estival é a altura certa para, “spoiler alert” (aviso indevido de um desmancha-prazeres) sofisticações e excessos gastronómicos. Ou seja, deixar de lado a “fast food” (comida rápida), as encomendas “online”, as entregas dos “couriers” (paquetes), os “drive-through” (pontos de recolha de refeição para veículos) e, de preferência, “experienciar” um menu elaborado por um qualquer “chef” de renome que se faça pagar a preceito. Os mais abonados terão então direito a “focar-se” em múltiplos “appetizers”, ou “entrées” (entradas), antecipando os “main dishes” (pratos principais) e as “desserts” (sobremesas), enquanto um “sommelier” (escanção) disserta sobre “wine pairing” (os vinhos mais apropriados ao repasto).
Dúvida metódica. Já descontando as diferenças temporais e as polémicas do desditoso acordo ortográfico, alguém consegue imaginar ilustres estrangeirados portugueses a fazerem uso deste linguajar? Jorge de Sena, Helder Macedo ou Eugénio Lisboa a pedirem um cheeseburger ou outra coisa do género na língua de Shakespeare, que dominavam na perfeição? Paula Rego, Vieira da Silva ou Maria Lamas a mandarem vir com o staff (funcionários) através de anglicismos, galicismos e neologismos? José Rentes de Carvalho a praguejar em neerlandês ou Eduardo Lourenço a fazer queixinhas na língua de Molière por não lhes servirem um naco bem passado em Mogadouro ou em São Pedro de Rio Seco?
VISÃO DO DIA: Breve glossário para a silly season
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