Segundo a velha anedota, o pároco português de uma aldeia raiana dedicava os seus sermões a dizer mal dos espanhóis. O caso era delicado: muitos espanhóis assistiam à missa naquela igreja portuguesa. E as queixas não tardaram a chegar ao bispo. Chamado à sede da diocese, o padre recebeu instruções rigorosas para se conter e não voltar a ofender “nuestros hermanos”. No sermão seguinte, com efeito, o bom cura absteve-se de comentários sobre os seus inimigos de estimação Mas, chegado à descrição da Última Ceia, despistou-se. “…E Nosso Senhor disse: ‘Um de vós irá trair-me, esta noite!’ E Judas, vendo que Jesus o olhava fixamente, perguntou: ‘Pero, Señor, por qué me miras así?’”
José Sócrates, que nos paroquiou durante seis interessantes anos, tem sempre em mira, obsessivamente, os seus próprios “espanhóis”: os magistrados do Ministério Público. De há uns anos para cá, todas as suas conversas privadas ou artigos nos jornais, os seus comentários e os seus desabafos acabam no tema dos malvados “procuradores do Ministério Público” e, já agora, no “execrável jornalismo português que os segue covarde [ele escreve sempre com v] e servilmente”