No seu livro de 1961, The Image, o historiador e professor norte-americano Daniel Boorstin tratava da influência dos media nas sociedades humanas, propondo um curioso conceito, aplicado sistematicamente na vida político-mediática: o do “pseudoacontecimento”. Um pseudoacontecimento tem de ter cinco características fundamentais: primeira, não é espontâneo, mas planeado. Segunda, é criado tendo em vista a cobertura dos media. Terceira, o seu sucesso é medido pela amplitude da sua cobertura. E quarta, a sua relação com a realidade é não só ambígua como, frequentemente, funciona como autopromoção do seu criador. Um exemplo típico de pseudoacontecimento é o recado dado por Marcelo Rebelo de Sousa a António Costa, instando-o a cumprir a legislatura até ao fim, em vez de interromper as funções a meio, para sobraçar um cargo europeu.
Mas se a semana passada foi dominada por um pseudoacontecimento – a hipotética intenção de Costa se pirar para Bruxelas sabe-se lá quando –, esta semana será dominada por outro pseudoacontecimento que nos diz, a todos, muito mais respeito: o da apresentação do programa de Governo na Assembleia da República. Ouvindo as declarações até agora produzidas pelo primeiro-ministro sobre o documento, que será “equivalente ao programa eleitoral do PS”, e analisando o próprio programa, constatamos que nada do que ali vem é seguro que realmente aconteça. A proposta eleitoral do PS foi elaborada antes de se saber que iria estourar uma guerra na Europa e que iríamos entrar em “economia de guerra”.
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