No debate com Jerónimo de Sousa viu-se, pela primeira vez em muito tempo, um António Costa decidido, de rosto fechado, sem a habitual simpatia que costumava usar nos encontros com o líder do PCP. Ao longo da emissão, agarrou-se ao trunfo principal da sua estratégia à esquerda: fazer regressar aos espectadores o espanto causado pelo chumbo do Orçamento do Estado e que ditou o final da Geringonça e obrigou à convocação das eleições. Ou seja: tentar repetir o coro de desilusão e até de alguma indignação que se sentiu entre muitos eleitores de esquerda quando o Orçamento não passou – e que foi, então, confirmado pelas sondagens que mostraram tanto o PCP como o BE a descer nas intenções de voto.
Como bem escreveu Filipe Luís logo após o final do debate, António Costa assumiu o tom ”amuado” e “cortante, mostrou-se chocado pelo chumbo do Orçamento, apontando responsabilidades ao PCP e considerando isso, em plena crise pandémica, uma “enorme irresponsabilidade”. Jerónimo de Sousa, claramente em baixo de forma e sem a desenvoltura de outros tempos, tentou nunca hostilizar o primeiro-ministro, repetindo várias vezes que está sempre disponível para procurar “soluções”.
A verdade é que Costa conseguiu surpreender Jerónimo, não só pela coreografia da sua postura – mais rígida e “amuada” do que o habitual – como também pelo evitar de utilizar expressões que pudessem dar a indicação de que, afinal, poderia sempre existir uma combinação entre os dois, alicerçada em seis anos de governação mais ou menos tranquila.