Quando pensa na infância, Sónia Campino lembra-se imediatamente dos dois irmãos mais velhos, André e Laura, a fazerem corridas com a sua cadeira de rodas. “A minha família sempre lidou com muita naturalidade como a minha deficiência”, conta a jovem de 26 anos, com paralisia cerebral.
A forma como os pais sempre a trataram, sem fazerem grande distinção em relação aos outros irmãos, ajudou-a sentir-se confortável consigo própria e a procurar ser o mais independente possível. Sónia também acredita que foi a família que a ajudou a descobrir uma ferramenta poderosa: a boa-disposição. “O nosso sentido de humor é a melhor arma para enfrentarmos os desafios”, acredita a jovem residente da cidade de Santarém.
Sónia também usou esta “arma” para contar a sua história no livro que agora lançou, ‘Sou diferente, mas eficiente’ (Chiado Ed.) é título das obra que começou por escrever para “ocupar o tempo e expressar sentimentos”.
Mais tarde, percebeu que o livro poderia ser o primeiro passo para concretizar o seu sonho: ser oradora motivacional. “Senti que precisava de uma base de onde partir e percebi que contar a minha história era o melhor caminho”, conta autora, que já começou a realizar o desejo de ser oradora indo a uma instituição, a Associação Portuguesa de Pais e Amigos do Cidadão com Deficiência Mental (APPACDM) de Santarém: “Acho que é junto dos jovens que a minha mensagem ganha mais força. São eles os adultos de amanhã”. Sónia pretende ir a escolas, mas também chegar perto dos pais de crianças com mobilidade reduzida.
O livro também poderá contribuir para eliminar preconceitos, Sónia sente que ainda mais difícil do que encontrar edifícios com condições de mobilidade para cadeiras de rodas, é a mudança de mentalidades. “A forma como os outros olham para mim, por vezes, é duro”, conta, antes de acrescentar: “As pessoas quando olham para mim só veem a mobilidade reduzida, mas quando abro a boca ficam surpreendidas. Não podemos ver só o aspeto, temos de ver o conteúdo”.
O sentido de humor e o estilo despachado sempre fizeram parte de Sónia. Estudou no ensino regular até ao 9.º ano e, apesar de não ter muitos amigos, sempre se sentiu integrada. “Era muito maria rapaz, até jogava futebol de cadeira de rodas”, recorda, divertida. Aos 16 anos foi estudar para a Associação de Paralisia Cerebral de Coimbra. Optou por um curso de informática, mas acabarias por não o concluir, sobretudo devido às regras apertadas do lar onde vivia que chocavam com o seu espírito independente.
Regressou a Santarém e o sonho de motivar outras pessoas foi crescendo. Mais tarde, leria o livro do orador profissional Daniel de Sá Nogueira, ‘Trata a vida por tu’, que seria mais uma fonte de inspiração para traçar o seu caminho.
Sónia explica que o livro de escreveu tem muito sentido de humor e que não poderia ser de outra forma: “a boa-disposição faz parte da minha identidade”. Mas além do humor, há outra condição que contribui para o seu à-vontade como oradora motivacional: “Gosto muito de mim como sou”.
Sónia Campino, 26 anos, editou o livro Sou diferente, mas eficiente para ajudar a mudar mentalidades relativamente às pessoas com paralisia cerebral e não só