Porém, perante as situações dramáticas e inimagináveis que presenciei ao longo de mais de 30 anos de missões humanitárias, admito que, por vezes, torna-se difícil falar de esperança sem sentir que se trata de uma palavra oca e vã.
Torna-se difícil falar de esperança quando assistimos a inenarráveis acontecimentos como o massacre de Peshawar no Paquistão, que tirou a vida a mais de 130 crianças, ou quando, por entre a euforia das decorações e iluminações de Natal, nos deparamos com idosos e crianças a pedir esmola na rua, ofuscados pela imensidão de sacos carregados de presentes e rostos ensombrados pela indiferença, ou ainda, depois de vislumbrar as condições precárias em que vivem os refugiados no Curdistão Iraquiano.
Torna-se difícil, mas é imperativo que não nos deixemos esmorecer nem acomodar.
Acredito no Ser Humano, como sempre acreditei, e coloco nas pessoas e no surgimento e fortalecimento da Cidadania Global Solidária a minha maior esperança.
Os cidadãos do mundo inteiro entenderam enfim que “Democracia” não é apenas ter direito a voto e a falar! É também participar no dia-a-dia nas decisões e nas suas corretas implementações que condicionam as nossas vidas e a nossa Humanidade no seu concreto.
Aos novos Desafios Globais (miséria, fome, clima, armas, guerras…) devemos responder com novas Respostas Globais (cidadania global, solidariedade global, valores universais tal como a honestidade, a dignidade e o respeito pela vida, todas as vidas!). Perante velhas e recorrentes Ameaças (fascismo, racismo, xenofobia, ditaduras…) temos que nos erguer e contrapor, sem tibiezas, medos ou cobardias, com as velhas e eficazes Armas de sempre (liberdade, resistência, fraternidade, coragem, luta…) mas de forma mais organizada, estruturada e empenhada.
É fundamental combater a indiferença, a intolerância, a ganância, para que sejam substituídas pelo espírito de solidariedade, de fraternidade, de irmandade, de tolerância, de liberdade e de igualdade de oportunidades. Cabe à sociedade civil global continuar essa pedagogia da verdade como reserva da salubridade e da equidade na Humanidade.
Não nos acomodemos, haja esperança! Não porque o espírito da época assim o requer, mas porque o espírito humano assim o exige!
Feliz Natal, caros Amigos, e que o novo ano permita fortalecer os alicerces de uma sociedade cada vez participativa, informada, solidária, atenta e justa.