Ando desanimado com a minha vida social. Sempre ouvi dizer que as circunstâncias da vida tendem a afastar amizades antigas mas, de facto, vamos ficando cada vez mais afastados.
Posso dizer que passo mais tempo com os colegas e clientes do que com as pessoas com quem acredito ter mais afinidades e interesses. Eu sei que todos temos vidas ocupadas, alguns de nós têm filhos e outros trabalham fora neste momento. O problema é que estamos cada vez mais uns com os outros por sms, chat e afins e, de tanto “temos de marcar uma jantarada”, dos “já te ligo” ou da versão “lamento, mas não vai dar”, começo a duvidar da nossa amizade.
Afinal, o que é ser amigo?
Começo a pensar que qualquer dia só nos vemos presencialmente em funerais…
Manuel, Santa Maria da Feira
É legítimo que sinta algum desencanto e frustração pelas promessas não cumpridas, ou comece a duvidar da veracidade das declarações de intenções. Não sei se também já deu por si a fazê-las e, nesse caso, terá tido boas razões para protelar algo que desejava, mas que não foi possível conciliar. Cultivar amizades pode parecer mais fácil do que há alguns anos, porque há mais formas de contacto. A maior facilidade de acesso por via das tecnologias acaba por trazer mais complexidade e gerar dispersão. Há que aceitar que, por vezes, não é mesmo possível conciliar, pois não é humanamente possível “estar em todas” ao mesmo tempo (família, amigos e conhecidos, on e offline).
Não deve, pois, sentir-se culpado, nem atribuir as impossibilidades dos outros a falhas suas ou deles. O segredo para manter uma amizade no registo presencial não está apenas na paciência (para gerir as diferenças de feitio, preferências e tempo), requer alguma disciplina e prioridades claras. Não quer dizer que tenha de existir um código de conduta, mas se souber ajustar expectativas, já é meio caminho andado. Ou seja, os seus amigos chegados, mas fisicamente distantes, sabem o que espera deles (convívio caseiro/familiar, partilha de actividades extra trabalho, saídas de bons rapazes, etc)? E você, sabe o que pode esperar? (qual o seu grau de motivação deles para organizar os encontros que implicam alguma organização ou esforço a planeá-los?)
Nada se faz “em condições”, com qualidade, sem dedicar-lhe tempo. Para evitar equívocos ou intenções que ficam por isso mesmo, parta do princípio que o que funciona para si pode não funcionar para os outros (por exemplo, sair da zona de conforto e deslocar-se, à noite, para locais longínquos ou com pouco estacionamento). Por vezes, é preferível tomar a iniciativa, fazer o convite telefonicamente e averiguar alternativas face ao proposto e certificar-se de que o plano é realista (ou se precisa de ajustes dos interessados). O lado motivacional também conta: o que pode valer mesmo a pena para que seja quase impossível recusar?
Com tanta solicitação electrónica, familiar e laboral, investir e insistir no contacto (próximo de uma data de aniversario ou para aquele concerto que é daqui a um mês) não tem de ser chato ou invasivo. Antes, é uma demonstração de interesse inequívoco da sua parte, que deixa clara a necessidade de uma resposta do outro lado. Mas pode vir a ser confrontado com algumas surpresas. Às vezes, por mais vontade que se tenha, quem se pensava amigo pode não estar mesmo lá (até nos funerais).