“Eles fazem parte da minha família.”, diz José Martins, 65 anos, vencedor, este ano, do prémio Troféu Português de Voluntariado, uma iniciativa promovida pela Confederação Portuguesa do Voluntariado (CPV). Em entrevista à VISÃO Solidária, o responsável pelo projeto Fora de Portas Martins revela os motivos que o levaram a ser galardoado. Faz voluntariado na Casa de Saúde S. João de Deus (CSJD), em Barcelos, há doze anos, e esforça-se por alegrar o dia-a-dia daqueles que considera serem do seu sangue.
Casado e com dois filhos, goza de uma idade que não lhe pesa ainda na voz – entre gargalhadas e sorrisos, José Martins confessa que por ser torneiro mecânico, nem sempre consegue dedicar-se tanto quanto gostaria à sua verdadeira paixão: ajudar quem mais precisa. Contudo, regozija-se por saber que não está sozinho na demanda. “São cerca de duzentos o número de utentes. No pavilhão onde ajudo, por exemplo, somos cerca de 60 voluntários. Mas no meu projecto somos apenas quinze”, esclarece.
Fora de Casa, o projecto que lidera, é a prova de que grandes feitos surgem a partir de ideias simples – tal como o título indica, o conceito é tão descomplicado como levar os doentes a saírem da CSJD, conhecerem novas paisagens, vaguearem por lugares citadinos que lhes são comuns. “Tenho sempre que fazer uma lista dos sítios onde pretendo levá-los e mostrá-la antes de sairmos a um enfermeiro”, explica. O premiado confessa que o objectivo primordial é dar-lhes a conhecer os simples prazeres da vida como ir a um café, andar ao ir livre, saborear um fruto arrancado da árvore. “Não é que a Casa careça de alguma necessidade. Aqui há uma equipa de profissionais que cuida deles muito bem”, refere o voluntário, “mas lá fora, como é natural, é diferente”, confessa.
A alegria de sair
A vizinhança já não estranha quando José Martins aparece nas ruas de Barcelos acompanhado pelos doentes. “Hoje de manhã levei-os ao café. São poucos os que por aqui moram e ainda não os conhecem”, refere, “cumprimentam toda a gente”. Sempre que saem da CSJD, mesmo que não façam nenhuma excursão nalguma cidade mais afastada de Barcelos e vagueiem apenas por ali, a felicidade é um sentimento que nenhum dos doentes consegue esconder da equipa de enfermeiros e voluntários. “Quando eu tenho permissão para levá-los a um determinado sitio e lhes comunico, eles ficam logo todos entusiasmados. Apressam-se logo a vestir outras roupas. Foi precisamente isso que me fez ganhar o prémio: eles saem à rua e são pessoas autónomas. Não há ninguém que possa dizer que são diferentes de mim, ou de qualquer outra pessoa.”
Respeito, igualdade e confiança são os pilares que sustentam a união e os laços criados entre José e os doentes. Aberta a porta da instituição, não há fronteiras intransponíveis. Qualquer lugar que seja belo é admissível para os passeios. “Já os levei inúmeras vezes a minha casa. Tenho um quintal nas traseiras onde eles chegam e colhem os frutos das minhas árvores.” E a família do premiado apoia-o. Quando recebeu o prémio, foram os primeiros a congratulá-lo. Com um sorriso entre os lábios, confessa que o galardão e o apoio dos familiares só lhe dão mais força para continuar com o projeto.
Prestes a entrar na reforma, pretende agora dedicar-se mais ainda aos que, segundo ele, também fazem parte da sua família. “Já cá estou há alguns anos. E, durante este percurso, por diversos motivos, vi alguns voluntários desistir” confessa. “Mas eu nunca pensei nessa hipótese. Aqui dentro sinto-me uma pessoa realizada”.