Na verdade, seja a título individual ou institucional, há toda uma série de ações que, podendo e devendo ser concretizadas em cada um dos 365 dias de calendário, como que por efeito de um estalar de dedos surgem repentinamente na agenda do mês de dezembro. E então, damos connosco a constatar que o dia tem apenas 24 horas e que eventos matinais, horas de almoço e de jantar, obrigações pela tarde adentro, por muito imaginativos que sejamos, não podem ser repetidos num mesmo ciclo do relógio.
A forma como somos bombardeados com informação de apelo à solidariedade e ao apoio a causas das mais diversas índoles surte efeito em corações que tendem, nesta quadra, a ficar mais moles, é um facto. Mas se o espírito natalício acarreta uma maior predisposição para a boa vontade capaz de nos fazer sentir melhores pessoas, importa no entanto começarmos a interiorizar que há assuntos demasiado importantes e demasiado consequentes para serem relegados para a última fatia do ano. Sob o risco de perdermos oportunidades que podem pôr em causa o sucesso dos propósitos que motivam a nossa razão de existir, seja lá em casa, seja nas empresas ou nas organizações a que dedicamos o que de melhor há em nós.
Se não vejamos, crianças em situação mais vulnerável merecem melhor tratamento apenas nesta quadra? É de repente que os estômagos ou os recantos das populações sem-abrigo ficam mais vazios ou mais frios e mais escassos? É só nestas alturas que as organizações do Terceiro Setor precisam de apoio para poderem cumprir os desígnios a que se propõem e que nós, cidadãos, tanto precisamos de ver concretizados?
É verdade que é cada vez maior o número de empresas que se preocupam ao longo de todo o ano com a dignificação das comunidades onde se inserem. É também verdade que é crescente o número de empresas a converterem os tradicionais presentes de Natal em donativos. Mas há tanto por fazer. E, sobretudo, as carências são tão evidentes todos os dias.
Eu sei que esta reflexão será consciente para muitos de nós, mas faço-a, mesmo assim. Por convicção de que, quanto mais altas e mais uníssonas forem as vozes capazes de alertarem para situações que nos levam não raras vezes à falha de compromissos por incapacidade humana de resposta a toda uma multiplicidade de exigências condensada em espaços curtos de tempo, e quanto maior for o apelo para boas práticas a cada dia que passa, melhor pode ser a nossa condição de vida.
E, se o Natal fosse todos os dias, não precisaríamos de uma época festiva para justificar a nossa intervenção atenta e responsável na arte de bem servir o outro. Assim, exorto as empresas a levarem mais além as suas políticas e as suas práticas de Responsabilidade Social e a estarem mais atentas às carências das comunidades em que os seus colaboradores se inserem.
Essa será também uma forma de conquistarem o seu sucesso e de se tornarem empresas mais rentáveis e mais felizes.