“Produzir alimentos e, ao mesmo tempo, evitar a poluição: um desafio irresistível de cidadania! Em 1983 tomei consciência de que a produção do que comíamos era baseada na utilização generalizada de adubos químicos e pesticidas de síntese fabricados em indústrias poluentes e enormes gastadoras de recursos naturais limitados.
Ao serem aplicados na terra e nas culturas, aqueles químicos tinham efeitos muito negativos, em primeiro lugar na saúde dos agricultores que os aplicavam, e depois, na terra, nas águas, na biodiversidade local e, por último, na qualidade do alimento final que seria consumido pelas pessoas. Ou seja, a nobre actividade de produzir alimentos estava a destruir a natureza e ainda a perturbar a saúde das pessoas que os consumiam e que era suposto cuidar.
A Agricultura Biológica foi uma resposta a esta situação: tem como objectivo produzir sem poluir. Ao fazê-lo procura imitar os mecanismos da natureza (fertilização natural através da reciclagem, a compostagem, dos restos das culturas, matos e estrumes, e da diversidade, a policultura, em vez da monocultura). As plantas crescem saudáveis, no seu ritmo natural, e as pragas e doenças como que desaparecem devido ao equilíbrio ecológico restabelecido (podendo ser utilizada a ajuda de produtos de origem vegetal e mineral). Os recursos locais são aproveitados e valorizados e a indústria química torna-se desnecessária: uma autêntica revolução!
Depois de muitos anos ligado à produção em agricultura biológica, dedico-me actualmente a fazê-los chegar aos consumidores, a trazer o campo à cidade. Com um relacionamento directo e parcerias com muitos agricultores, criadores e empresas que fabricam produtos biológicos animamos a Miosótis, um local que funciona como um ponto de encontro entre aqueles que procuram produtos biológicos e aqueles que os produzem.
Atualmente as pessoas que vêm às compras na Miosótis viabilizam muitas centenas de hectares de terras livres de poluição de agro-químicos e contribuem assim para um planeta com mais futuro para as gerações seguintes. A ideia de consumidor/actor de mudança é algo que estimo e que gostava que fosse disseminada para que o acto de consumir/comprar tenha consequências positivas a “montante” (apoio a um tipo de produção mais ecológica e mais justa) e a “jusante” (mais saúde e bem-estar). Todos somos consumidores pelo que com as nossas opções podemos realmente contribuir para um mundo melhor já!”