“Esta manhã acordei por volta das oito. Poucos minutos depois nadava os meus primeiros 250 m do dia. Colhi três laranjas que pus no frigorífico de onde tirei as que lá tinha posto ontem para as espremer enquanto saía o café, que bebi acompanhado de pão caseiro com mel oferecido pela gente do meu Monte.
Em 1964 deixei Portugal em um comboio a vapor, na direção da Itália, com a intensão de me formar em física na Universidade de Turim. Acabei por estudar na Universidade Livre de Bruxelas e fazer lá toda a minha carreira. Foi a melhor decisão da minha vida. Se tivesse ficado em Portugal, provavelmente que teria as mesmas frustrações e sentiria a mesma amargura que encontro em muitos Portugueses. Hoje, vivo entre a Serra algarvia e Bruxelas. Estou jubilado há pouco mais de quatro anos, mas preparei a minha aposentação com muita antecedência.
Uma das experiências profissionais mais gratificantes foi a participação em uma missão espacial na qual John Glenn, o primeiro astronauta americano, partiu para a sua segunda missão aos 77 anos! Seguiu o mesmo treino que os outros astronautas e participou nas mesmas experiências que os seus companheiros, que podiam ser seus filhos. Sentia que aprendia mais lentamente… Aceitar envelhecer é um bom conselho e a serenidade um sentimento precioso.
Tive o enorme privilégio de fazer toda a vida o que queria e, para mais, ser pago para isso mesmo. No entanto, a direção de um laboratório acarreta certas obrigações que por vezes são pesadas. Portanto, sinto-me ainda mais livre e continuo a publicar artigos científicos, sobretudo com antigos colaboradores. De tudo o que tenho feito desde que me jubilei, o que mais me agrada é a disponibilidade para com os meus cinco netos, entre 14 e um ano. Vivem em Bruxelas, mas a soma de todas as viagens até a Serra algarvia já ultrapassa a centena. Temos aqui a casa dos encontros familiares e beneficiamos de uma das coisas que Portugal tem de mais atraente: o clima!”