A jornada de negociações de ontem na COP30, em Belém do Pará, expôs uma divisão profunda entre países que exigem uma transição real para fora dos combustíveis fósseis e aqueles que continuam a bloqueá-la. A Colômbia liderou o momento mais inesperado do dia ao anunciar, logo pela manhã, que não aceitaria o rumo das negociações, organizando uma conferência de imprensa onde convocou uma conferência internacional alternativa para abril de 2026.
Num gesto que surpreendeu delegações e observadores, a Colômbia, apoiada por cerca de 80 países, declarou que o documento final da COP não continha o essencial para enfrentar a crise climática. A ministra do Ambiente, Susana Muhamad, convocou uma nova cimeira para 28 e 29 de abril, na cidade de Santa Marta, dedicada exclusivamente a uma “transição justa” e a um compromisso concreto de saída dos combustíveis fósseis.
O anúncio colocou pressão imediata sobre a presidência brasileira da COP e marcou o tom de um dia marcado por rutura. Pouco depois, os negociadores divulgaram um novo rascunho do documento final de onde tinham desaparecido expressões como “fim dos combustíveis fósseis”, “eliminação progressiva” ou até “redução”. Segundo várias fontes presentes, a supressão foi motivada por pressão da Arábia Saudita, apoiada pela Índia e outros países alinhados com os interesses da China. A reação foi imediata: cerca de 30 países recusaram assinar o texto e abandonaram a mesa de negociações de forma simbólica.
O mesmo documento mantinha outra posição controversa: a União Europeia não pretende aumentar qualquer financiamento adicional para adaptação ou restauro ecológico, apesar das exigências de países vulneráveis. À medida que o descontentamento crescia, as negociações foram retomadas num ritmo frenético de shuttle diplomacy, com mediadores a correr entre salas para tentar recompor o processo.
Em resumo, dois impasses permanecem claros: a Arábia Saudita recusa qualquer referência a petróleo ou combustíveis fósseis no texto final e a União Europeia rejeita novos compromissos financeiros para adaptação, mitigação ou perdas e danos. Ambas as posições confrontam diretamente o bloco liderado pela Colômbia, que exige um texto que inclua a eliminação dos combustíveis fósseis e um reforço substancial do financiamento climático.
Ao início da manhã de hoje, já circulava um novo rascunho do documento final da COP30. O futuro do acordo permanece incerto — mas uma coisa está clara: a unidade que muitos esperavam para esta conferência está longe de se concretizar.
Imagens: Abel Rodrigues, Pedro Moura e Sílvia Moutinho | Direção Editorial: Joana Guerra Tadeu | Produção em parceria com Don’t Skip Humanity.