Pedro Passos Coelho disse esta terça-feira em tribunal que, em maio de 2014, sugeriu ao então banqueiro Ricardo Salgado que negociasse com os credores do Grupo Espírito Santo (GES) uma “falência ordenada” desta entidade. A recomendação foi dada depois de Ricardo Salgado ter solicitado que o Estado implementasse um programa de apoio ao GES.
“Essa reunião traduzia o pedido do Dr. Ricardo Salgado de ver o Governo, não direi impor, mas dar orientações à Caixa Geral de Depósitos e, eventualmente se isso fosse necessário, dar algum aporte positivo sobre um plano de reestruturação junto de outros bancos […] para um programa de apoio financeiro ao Grupo Espírito Santo”, afirmou Pedro Passos Coelho, ao testemunhar no julgamento do processo principal do colapso do BES/GES, em Lisboa.
Além de apoio financeiro, a administração do BES pretenderia que fosse possível fazer “uma troca de ativos”, de modo a gerir aqueles que poderiam “estar a pressionar a saúde financeira do grupo”.
“A minha reação foi muito prática: transmiti que esse plano não tinha qualquer viabilidade”, frisou.
Neste contexto, o então primeiro-ministro deu “uma sugestão no sentido de evitar a falência desordenada do GES”, propondo a Ricardo Salgado que reunisse “os seus credores mais relevantes” e negociasse “com eles uma falência ordenada”.
Pedro Passos Coelho recordou ainda que, em abril de 2014, tivera já uma primeira reunião com o ex-presidente do BES, na qual este mostrara “desconforto com a forma como o governador do Banco de Portugal lidava com o BES”.
“Era sabido que o Banco de Portugal estava empenhado em garantir uma substituição da administração do BES, não ajudar à confusão entre a situação que era razoavelmente conhecida do Grupo Espírito Santo e a do próprio banco”, acrescentou.
O processo conta atualmente com 18 arguidos, incluindo o ex-presidente do BES, Ricardo Salgado, de 80 anos e diagnosticado com a doença de Alzheimer.
Hoje, a defesa do ex-banqueiro lamentou durante o julgamento não poder, dada a situação clínica, conferenciar com o seu cliente para melhor exercer o contraditório sobre o sucedido nas duas reuniões relatadas por Pedro Passos Coelho. Adriano Squilacce alegou que tal se traduz numa “violação das garantias de defesa” do arguido.