José Guilherme, empresário da construção, morreu na noite de quarta para quinta-feira, aos 78 anos. Pouco conhecido do grande público, o seu nome acabou por saltar para a ribalta em 2012, durante o processo Monte Branco, quando foi descoberta uma transferência de uma conta sua para Ricardo Salgado no valor de 14 milhões de euros, descoberta que se viria a tornar uma das peças chave para a investigação do caso BES.
O ex-líder da família Espírito Santo viria mais tarde explicar que esta dinheiro tinha sido uma “liberalidade” do seu amigo em troca de uns conselhos para investir no imobiliário em Angola.
Um homem discreto, que nos meios da construção civil era conhecido como o “Zé Grande”, viveu desde sempre na Amadora, num apartamento na Avenida Elias Garcia. Foi nesta cidade onde começou os seus primeiros grandes empreendimentos imobiliários.
A sua segunda morada era, desde 1990, no Alentejo, mais propriamente na herdade dos Arrochais, perto da Amareleja, que conta com uma área de 2 700 hectares.
Era nesta propriedade que gostava de receber os amigos durante as caçadas. Por ali passaram Dias Loureiro, José Sousa Cintra, Isaltino Morais e até o genro de Cavaco Silva, Luiz Montez, que, segundo um artigo do Jornal Expresso de 2015, sofreu um acidente de caça sendo atingido por chumbos de uma caçadeira. “Quando chegámos ao centro de saúde de Moura, estava lá muita gente de volta dele [Luiz Montez], incluindo o sogro. Fomos em comitiva até Beja, até parecia um casamento com tantos carros atrás de nós”, contou na altura o motorista da ambulância, Hugo Dias.
A sua segunda paixão era o Benfica, clube que terá ajudado durante o período financeiro mais conturbado vivido na Luz. “A notícia do seu desaparecimento deixa o Sport Lisboa e Benfica devedor de uma eterna gratidão pelos seus mais variados e exemplares atos de benfiquismo”, refere o comunicado divulgado pela direção encarnada. Na mesma missiva, o Benfica realça o papel importante que José Guilherme teve na recuperação financeira do clube e considera que o empresário foi “uma figura decisiva na construção do novo Estádio da Luz”.
José Guilherme esteve ainda associado a uma polémica com a Comissão de Inquérito do caso BES, quando se recusou a comparecer na Assembleia da República alegando vária razões, como problemas de saúde, por ter nacionalidade angolana e porque nessa data estaria a tratar de negócios em Luanda. Nesse mesmo dia foi visto a cortar o cabelo, pelas 10 horas da manhã, no seu barbeiro da Amadora, onde ia há mais de 40 anos, informação que seria confirmada mais tarde pelo próprio barbeiro, Aurélio Robalo: “Ele esteve aqui às dez da manhã e fez, como sempre, a marcação com antecedência”.