O capitalismo popular estava ao rubro. No início de 1973, os pequenos investidores endividavam-se para comprar ações na Bolsa de Lisboa, cujas cotações atingiam valores irrealistas. A procura estendia-se a todos os papéis, mas havia um banco e uma empresa que se destacavam. O Banco Intercontinental Português (BIP), um projeto que trouxe uma lufada de ar fresco ao conservadorismo da alta finança no Estado Novo, era uma das estrelas do mercado. A Torralta, precursora do time-sharing, era outra. Mas a mudança de regime viria a revelar-se fatal para os seus promotores. À beira da falência, as duas entidades acabaram por ser as primeiras intervencionadas pelo Estado, em outubro de 1974, quase seis meses antes das nacionalizações.
Para entender a ascensão do BIP, é preciso recuar até ao início da década de 1970, uma época de grande crescimento e também de forte especulação bolsista. O fundador, Jorge de Brito, soube aproveitar como poucos esse período dourado da economia portuguesa para se lançar nos negócios. Criado em 1972, o banco cresceu com grande vigor, apoiado por um regime que caminhava a passos largos para o fim. Depois da Revolução de Abril, Brito esteve preso durante 19 meses e só após uma longa luta com o Estado português conseguiu reaver os seus bens. Em democracia, recomeçou como comerciante e colecionador de arte – chegou a ser dono do maior número de obras da pintora Maria Helena Vieira da Silva – e foi presidente do Benfica, entre 1992 e 1994.
