Ser a última escolha para a equipa é quase sempre um rude golpe na autoestima de uma criança. Não lhe passarem a bola, em contexto escolar ou enquanto joga na rua com amigos, pode fazer ainda mais estragos e arruinar-lhe qualquer vontade de correr, saltar, rematar ou lançar. Se calhar, o desdém involuntário explica-se tão-só pela falta de habilidade para a atividade física. Não vem mal ao mundo: a frustração há de ser passageira e o ânimo voltará por outras vias, talvez menos atribuladas, como a dos videojogos, hoje tão popular entre os mais novos – e que apenas exige destreza nas falanges.
Ponto final, parágrafo. Não nos precipitemos. Este texto não versa sobre futuros desportistas de alta competição, mas seria escandalosamente comodista desistir tão facilmente de incentivar crianças a mexerem o corpo, acenando-lhes com o sofá logo à primeira contrariedade. Múltiplos benefícios apelam, antes, a que se insista. Veja-se esta evidência, cada vez mais consolidada no meio científico, e o seu efeito dominó: as competências motoras apresentadas desde tenra idade impulsionam a prática de atividades físicas, que por sua vez geram hábitos de vida mais saudáveis, não apenas durante a infância e a adolescência mas também, com maior probabilidade, ao longo da vida adulta.