Durante a pandemia, Ana Simões, chamemos-lhe assim para proteger a sua identidade, recebeu um computador portátil do empregador. Em vez de continuar a trabalhar apenas na agência bancária, a gestora de conta, de 47 anos, deu por si a enviar propostas de crédito ou a responder a emails de clientes à noite, a partir de casa. Com a nova rotina, passaram também a chegar-lhe mensagens “fora de horas” do superior hierárquico, inclusive com ordens diretas para executar no momento. O mesmo chefe que não lhe concedeu mais de 15 dias de teletrabalho nos confinamentos ou que não lhe assinava as despesas, quando acompanhava um cliente a uma escritura, ou que lhe exigia “objetivos impossíveis” de concretizar, desabafa.
“Trabalhar num banco é trabalho de escravo. Querem sempre mais”, sustenta, ao fim de 18 anos e meio de carreira. O seu caso não é diferente de outros, garante. “Sentimos medo. Certo dia, ofereci ajuda a uma colega que estava com dificuldades nos fundos de investimento e começou a chorar ao ser confrontada pelo diretor. Ele perguntou-me porque estava a meter-me na conversa e disse para me preocupar comigo.”