Matilde Trindade, de 19 anos, é uma estudante universitária sem interesse particular por política, e o uso que faz do TikTok é igual ao de tantas raparigas da sua idade: entretém-se sobretudo com vídeos de receitas, moda e viagens. Só há uma figura da política portuguesa que sobressai na plataforma quando está por ali a navegar: Rita Matias, a jovem deputada do Chega. “Relacionada com política, é sempre ela que me aparece nas sugestões, sejam vídeos seus sejam os de outros a criticar, principalmente quando há polémicas ou escândalos”, diz. Convidamo-la a fazer uma experiência: uma simples pesquisa por “eleiçõesportugal2024”. Nunca tinha feito uma busca por conteúdos semelhantes. Bingo: são vídeos e mais vídeos de André Ventura, do Chega, de Rita Matias e de contas simpatizantes do partido da direita radical. Só depois de mais de 25 conteúdos é que surge um conteúdo distinto, mais moderado.
Fizemos outro teste com a ajuda de Marta Franca, de 18 anos, estudante universitária. Estava na zona de Tomar quando, à frente da VISÃO, abriu uma conta no TikTok, uma vez que ainda não tinha. Nesta estreia, saltou as preferências, não seguiu ninguém e esperou para ver o que a plataforma lhe propunha, testando os seus gostos. O quinto vídeo sugerido a esta recém-chegada foi um conteúdo viral, em que aparecem, no Martim Moniz, pessoas identificáveis como indianas e paquistanesas, uma crítica implícita à presença de imigrantes em Portugal. O 15º vídeo que apareceu vem na mesma linha temática: André Ventura a falar de imigração. Com o algoritmo ainda “virgem”, depois de escassos cinco minutos de utilização, Marta pesquisou por “politicaportuguesa”. Sem surpresa, surgiram de imediato vídeos sobre o Chega, Ventura e críticos do Governo.