Na cela sufocante da prisão, um homem ainda novo pensa na vida que até aí viveu para entregar ao silêncio a sua voz calada. Esses pensamentos estão acertados por uma certeza, que faz da privação da liberdade daquele triste presente português uma condição da restituição da liberdade ao futuro desse presente.
Agora, como num filme, ele está em São Tomé e Príncipe; em Itália, perto de Roma; em Paris. Escreve – a sua mão leva a caneta ao papel e as palavras que desse gesto nascem falam de uma vida feita a resistir, de cabeça levantada, a uma meticulosa ditadura, num “Portugal Amordaçado”. Noutras ocasiões, a mão abandona a caneta e os dedos procuram as teclas da máquina de escrever: as letras que saem dessa batida inquieta falam do futuro e das ideias para o tornar habitado pelas palavras democracia, justiça, socialismo democrático, desenvolvimento, Europa. Esse livro é como uma garrafa com uma mensagem atirada ao oceano vasto e inesperado do futuro.