O Spotify anunciou, na segunda-feira, o despedimento de 1.500 trabalhadores. Esta é a terceira e a maior redução na massa salarial feita em 2023 pela plataforma de streaming de música, após a dispensa de 600 funcionários feita em janeiro e de 200 em junho. “Para alinhar o Spotify com os nossos objetivos futuros e garantir que estamos adequadamente dimensionados para os desafios que se avizinham, tomei a difícil decisão de reduzir o nosso número total de efetivos em toda a empresa em cerca de 17%“, justificou o CEO Daniel Ek numa carta escrita à sua equipa e partilhada no site da companhia.
“Uma redução desta magnitude pode ser uma surpresa, dado o recente relatório de ganhos e o nosso desempenho”, reconhece o próprio Ek. No terceiro trimestre deste ano, contrariando a tendência de prejuízos, a empresa lucrou 32 milhões de euros, graças ao aumento dos preços nos serviços premium (em junho, as assinaturas familiares subiram mais de 17%) e pelo crescimento do número de utilizadores em todas as regiões (601 milhões, mais 345 milhões do que no final de 2020). Números que ultrapassaram as expectativas, mas não foram suficientes para conter os cortes.
Enquanto os usuários estavam entretidos a partilhar os resultados do Spotify Wrapped 2023 – uma retrospetiva de músicas e podcasts que mais ouviram ao longo do ano –, Daniel Ek avançou com esta redução de custos, justificando que “em quase todas as métricas, somos mais produtivos, mas menos eficientes”. “O crescimento económico abrandou dramaticamente e o capital tornou-se mais caro”, disse o CEO. “Apesar dos nossos esforços para reduzir custos no ano passado, a nossa estrutura de custos para onde precisamos de estar ainda é demasiado grande.”
Na carta, acrescenta que foi debatida a possibilidade de fazer reduções menores ao longo de 2024 e 2025. No entanto, dada a diferença entre os objetivos financeiros e os custos operacionais atuais, decidiu que uma ação substancial para redimensionar os custos seria a melhor opção. “Embora esteja convencido de que esta é a ação certa para a nossa empresa, também entendo que será extremamente doloroso para a nossa equipa”, acrescentou Ek.
Os cortes do Spotify ocorrem num momento em que a indústria tecnológica enfrenta o fim de uma década de taxas de juro baixíssimas que impulsionaram o seu crescimento. Em 2020 e 2021, a empresa “aproveitou a oportunidade oferecida pelo capital de custo mais baixo e investiu significativamente na expansão da equipa, melhoria de conteúdo, marketing e novas verticais”. Dos três mil empregados existentes em 2017, triplicou para 9800 no final de 2022. Agora, à semelhança de gigantes da indústria como a Amazon ou a Meta, está a cortar nos custos.
Apesar de ser a maior plataforma de streaming de música, há muito que o Spotify luta por ser lucrativo, devido aos termos dos acordos de licenciamento que mantém com a indústria musical, nomeadamente, o pagamento de direitos de autor/distribuição. A empresa avançou para novas áreas como o podcasting – realizou acordos milionários com figuras conhecidas como o casal Obama, e o príncipe Harry e sua esposa, Meghan, ou Kim Kardashian – e os audiolivros. As mudanças ajudaram o Spotify a atrair ouvintes e assinantes, mas não representaram um avanço financeiro.
A medida foi bem acolhida pelos investidores, ansiosos por ver a empresa obter lucros de forma mais consistente. As ações do Spotify, cotadas na Bolsa de Valores de Nova Iorque, saltaram mais de 7% nesta segunda-feira, ampliando os ganhos que a empresa, sedeada em Estocolmo, obteve este ano. “Na mente dos investidores, isso representa um ponto de viragem em termos da seriedade da empresa” em atingir metas de lucro, disse Benjamin Black, um analista do Deutsche Bank, ao New York Times. Já nas redes sociais, como o X (antigo Twitter), o anúncio de Daniel Ek tem levado a um coro de críticas.
A plataforma já tinha sido atacada pelos valores pagos aos artistas, considerados irrisórios. Recentemente, mudou as regras de direitos de autor, aplicáveis em 2024, estabelecendo que uma faixa só pode receber royalties se for ouvida pelo menos mil vezes num ano, como forma de “distribuir os pequenos pagamentos que não estão a chegar aos artistas”. Mas a generosidade da medida está a gerar muitas dúvidas.
Concorrência à vista
O Spotify revolucionou a indústria musical e mudou a forma como ouvimos música. A empresa tem superado concorrentes como a Apple Music e o YouTube Music, com 220 milhões de assinantes premium e mais de 400 milhões de utilizadores ativos mensais. Oferece acesso a mais de 82 milhões de músicas, podcasts e outros conteúdos de áudio de vários géneros e artistas. Mas a qualidade sonora está aquém da de alguns dos seus concorrentes diretos, como explica o What Hi-Fi?, o principal guia mundial independente para produtos de alta fidelidade e entretenimento doméstico.
Em julho, o aumento dos preços dos serviços premium – a subscrição anual passou de 6,99 euros para 7,99, e o plano familiar de 11,99 euros para 13,99 euros –, levou muitos assinantes a procurar alternativas.
Fique com alguns exemplos:
Amazon Music Unlimited
A empresa também aumentou este ano o preço da subscrição, passando dos 9.99 euros para 10.99 euros por mês. Quanto aos planos familiares, que permitem até seis perfis por conta, também vão sofrer mudanças, dos 15.99 euros por mês aumentam para os 16.99 euros. O catálogo tem mais de 100 milhões de músicas e podcasts, inclusive músicas com alta qualidade e suporte a Ultra HD e áudio espacial, para ouvir sem anúncios e reprodução offline. A Amazon tem também a Prime Music, que é um benefício gratuito incluído na assinatura Amazon Prime, com um catálogo de 2 milhões de músicas.
YouTube Music Premium
Descrevem-se como “o maior catálogo de música do mundo com mais de 100 milhões de músicas, sem anúncios, offline e com o ecrã bloqueado”. O YouTube Music Premium está incluído na sua subscrição do YouTube Premium, aliás, os utilizadores podem alternar facilmente entre vídeos de música e faixas de áudio. A subscrição individual é de €8,49 por mês e a familiar de €12,99, com um mês à experiência. O design da plataforma é, diga-se, muito semelhante ao do Spotify.
Tidal
Fundada em 2014, pela empresa norueguesa Aspiro, e posteriormente adquirida pelo rapper Jay-Z, a Tidal tem mais de 5 milhões de utilizadores. Tem mais de 90 milhões de músicas com qualidade de som Hi-Fi, 450 mil videoclipes e conteúdos exclusivos, sem anúncios. A vantagem do serviço está na alta qualidade sonora, a melhor neste mercado, segundo vários sites da especialidade, além de ser a plataforma que paga mais royalties aos artistas pelas canções escutadas. Quanto aos planos disponíveis, é possível obter o serviço por €7,99 mensais no plano Tidal HiFi. Por €13,99, o Tidal HiFi Plus destina 10% do valor da assinatura aos artistas mais ouvidos pelo utilizador.
Deezer
Lançada um ano antes do Spotify, nunca alcançou o mesmo sucesso. Oferece mais de 90 milhões de músicas, gravações de artistas nos estúdios da plataforma e podcasts originais. Há planos de assinatura a partir de €10.99 por mês (sem fidelização), €8.24 por mês (fidelização de um ano) ou €17.99 por mês no pacote família (sem fidelização). Todos eles incluem um mês grátis.
Apple Music
O serviço de streaming de músicas da Apple está também disponível em dispositivos da concorrência. O seu banco de dados tem mais de 100 milhões de músicas, mais de 30 mil playlists selecionadas, rádio em direto, concertos e exclusivos, disponíveis com o pagamento de €7.49 por mês (pacote individual) e €11.99 por mês (pacote familiar). Os novos assinantes recebem 1 mês grátis. A qualidade sonora é uma das suas mais-valias. Tem ainda a Apple Music Sing, uma espécie de karaoke onde pode escolher ser a voz principal, a segunda voz ou fazer um dueto com o artista.