Em 1833, a monarquia constitucional portuguesa aboliu a lotaria e outros jogos de azar, como que num protesto de consciência pública. A decisão foi aplaudida, em nome da moral e do trabalho, mas como se poderia viver sem as constantes “palpitações de coração” dadas pela esperança de uma fortuna encontrada numa bela manhã? “Era impossível”, escreve Maria Rattazzi, no seu livro Le Portugal à Vol d’Oiseau, editado em França, em 1879. “Quem tem o vício do haxixe ou do ópio é escravo desse vício; poderá passar sem pão, mas sem ele!…”, escreveu.
A dependência do jogo não chega, porém, para explicar o restabelecimento da lotaria em Portugal logo no ano seguinte à sua abolição.