O leão costuma ser visto como a figura mais assustadora da savana africana. Ora, uma experiência conduzida no Parque Nacional de Kruger, na África do Sul, revelou que, quando confrontados com vozes humanas, os animais tinham duas vezes mais probabilidade de fugir rapidamente, em comparação com o rugido do “rei da selva”. O estudo, publicado na revista científica Current Biology, com vídeos das reações de 19 espécies de mamíferos – girafas, leopardos, elefantes, zebras, entre outros – mostra que o medo do “super predador” é prevalecente. Um medo justificado, já que os humanos matam presas em taxas muito superiores à dos outros predadores.
Os investigadores colocaram altifalantes junto a diferentes poças de água, que eram acionados quando os animais se aproximavam e emitiam as gravações de vários sons, como disparos, cães a ladrar e leões a rugir. Mas nada despertou maior receio do que simples conversas entre humanos, ouvidas num volume normal. Os vídeos das reações são reveladores, com os animais selvagens a abandonarem os locais sem hesitação, e 40% mais rápido.
O Kruger, o maior parque natural da vida selvagem, foi o palco ideal para a experiência. Os biólogos da Western University, no Canadá, analisaram milhares de vídeos registados na savana para estabelecer uma hierarquia do medo. “O medo dos humanos excedeu significativamente o medo dos leões em toda a comunidade de mamíferos da savana”, aponta o estudo. Estes resultados mostram como a nossa espécie é reconhecida como excecionalmente perigosa, numa zona frequentemente atacada por caçadores ilegais.
Aliás, uma das aplicações que a equipa deseja explorar em investigações futuras, é o uso de reproduções de vozes humanas para manter os animais longe das cercas que estão próximas das estradas, onde ocorre muita caça furtiva. Uma oportunidade para causar, finalmente, um efeito positivo.