“IA não é arte”, “Pedi ao ChatGPT para escrever um cartaz e era uma merda”, “IA não tem alma”. Estes eram alguns dos cartazes empunhados nos piquetes, durante os protestos de argumentistas e atores, em greve desde maio e julho, respetivamente. Grandes estúdios e trabalhadores estão separados em vários temas: aumentos salariais, condições laborais, distribuição dos ganhos do streaming. Mas o sucesso dos novos modelos de Inteligência Artificial (IA) generativa – e o aparente fascínio dos estúdios com o seu potencial – criou um novo foco de medo e protesto. Depois de décadas a imaginar futuros distópicos no grande ecrã, em que máquinas dominam os humanos, Hollywood talvez esteja a vivê-los mais cedo do que a maioria. Um sinal de que o tipo de trabalhadores afetados por esta vaga de robotização pode ser muito diferente de outros momentos de revolução tecnológica.
A capacidade de modelos de linguagem como o ChatGPT gerarem texto que consegue imitar e cruzar diversos estilos com uma velocidade com a qual nenhum humano consegue rivalizar faz os argumentistas temer que sejam usados para reduzir salários e postos de trabalho. Uma série de televisão totalmente escrita por IA pode ser demasiado futurista, mas um corte drástico no número de escritores necessários para colocar algo no ar não é uma possibilidade inverosímil. Para os atores, a inquietação está na possibilidade de a IA fazer cópias digitais da sua cara e corpo e de elas serem utilizadas noutros episódios ou séries, sem receberem mais por isso (os estúdios negam).